domingo, 25 de novembro de 2012

O bom selvagem no fim da noite- Rolando Vezzoni

Se era fim de noite ou começo de dia, dependia apenas deles.
Olhar para cima queima os olhos, olhar para baixo é deprimente, olhar para frente é estupidez.
O selvagem andando na idade dourada, falando com a deusa.
“Mim querer banheiro e prosa livre, querer mulher e cheiro bom... querer ler conto curto que dura para sempre”
-É isso que você quer senhor gorila de tênis?
“Macaco não usa camiseta, só usa chapéu.”
-Por quê?
“Fazer reverência... Tirar chapéu e abrir cabeça.”
Saber falar é mínimo, saber escutar é doloroso e ninguém sabe cantar.
Alguns escrevem de olhos fechados.
-Como os primatas se ocupam?
“Macaco escova os dentes, escuta jazz e pede truco.”
-Nos dias úteis também?
“Não, fecham os olhos e... ”
-Rezam?
“Não. ”
Pensar a respeito é cansativo, ignorar é arbitrário e sobreviver é inevitável.
“Muita palavra. Pouco conteúdo. ”
A deusa ri, as deusas sempre riem.
Coça a cabeça e delibera, o bom selvagem sempre está deliberando antes da próxima soneca.
-Alguma ideia para nos despedirmos, antes de Prometeu trazer o fogo? Depois disso não tem volta.
“Então fazer semi-deus.”
-É tudo que você quer?
"Agora?"
-Sim
"É. "
Andar faz parte, correr cansa e ficar parado é o fim da linha.
Que venha Zeus e seus abutres!

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