terça-feira, 26 de abril de 2011

O homem de cueca.- Rolando Vezzoni.

O sujeito descia uma rua na qual haviam muitos carros parados buzinando.
Fazia frio, ventava de forma que a pele ficava áspera como a de um frango depenado e seu o cabelo que usualmente lhe cobre a face dançava com as rajadas geladas de quando em quando lhe levando defronte a realidade, tudo no que pensava era no casaco que tinha deixado no acento de sua cadeira antes de sair.
Estar exposto ao vento lhe lembrou de um sonho que tivera outro dia.
No sonho tudo era bem real, exceto pelo fato de ele não saber onde estava, e nem porque estava de camiseta e sem calças.
Tentou ir até o ônibus(que por alguma razão era seu objetivo)da forma mais discreta possível.
subiu por um barranco que dava para a janela do veiculo e pulou por ela para entrar sem ser visto, lá dentro havia um conhecido seu, que olhou para ele e disse:
-Você está SÓ de cueca?
-Eu esqueci de colocar a calça hoje.
-Você SÓ esqueceu de colocar a calça?!
-Não faça muito caso disso, eu quero ficar na miúda, acho que ninguém vai notar.
-Ninguém vai notar que você está SÓ de cueca?
-Então me arruma uma calça.
-Eu tenho uma calça que tem SÓ um furo na bunda.
-Tudo bem.
Vestiu a peça furada, e se sentiu um cara normal.
Parou de pensar nisso quando chegou ao bar onde havia combinado de se encontrar com amigos. Foi andando devagar para a mesa, sentou e acenou de forma discreta.
Uma garota olhou para ele com cara de incomodada.
-Algum problema?
-Você está SÓ de camiseta?
O vento era o menor de seus problemas.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

o que somos e seremos- Francisco Knulp

Não, nós simplesmente não temos mais saída.
Seremos adultos de merda e faremos terapia.
Reclamaremos por tudo, e mudaremos nossos filhos todo dia,
limparemos com álcool cada ferida.
Passamos o princípio da nossa história
sentados em cadeiras de plástico.
Teremos dor nas costas e no nervo ciático.
Fingiremos que trabalho e salário nos traz glória.
Quando Reich nos avisou que teríamos prisão de ventre,
não ouvimos, pois ele não estava na lista da Uni-puta-que-o-pariu.
Pessoas que não gostamos baterão em nossas portas e diremos:
-Entre!
-O Brasil é economia "xis, ipsulon zê", Você não viu!?
-Meu, deu no jornal nacional!
Já que agora jovens engolimos seco nossas divagações,
Amamos os débeis mentais com seus carrões.
Aturamos nossos professores socialistas e/ou petistas.
Aturamos nossos pais e mães neo-liberalistas e/ou PSDBistas.
Aturamos toda e qualquer "bucetada" política.
Nós não temos saida.
O "ensino mérdio", o "ensino fodamental" e a "faculbosta".
Nossa vida nada é além de rodar bolsa na avenida.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Meu veneno- Rolando Vezzoni

De inicio foram-se os dedos,
e junto deles a tensão.
Tampouco mais corrido o tempo,
os meus pés sumiram, os dois.
Já agora não importam-se os beijos,
não há mais amor, só tesão.
Nada mais agora eu tento,
passados uns minutos, tudo fica para depois.
A visão se cega para os medos,
os defeitos não mais os são.
Meu corpo leve como uma rajada de vento,
vendo agora todo o um, como um dois.
Nauseabundo com os membros amortecidos,
fecho meus olhos mergulhando na escuridão.
Deixo então a ultima dose ali, pois,
Em meu êxtase, já estou morto

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Livre para amar e ter pena.- Rolando Vezzoni.

Amo a ideia da liberdade,
desde a do muito porco libertino, 
até a do muito morto libertário.
Desse cálice bebo á vontade.

Amo as mais toscas, impossíveis,
estranhas e extremas utopias.
No caos nado a braçadas,
Rindo folgado no chão, dos nossos reis.

Tenho pena, muita pena do homem,
que não libera de suas quinquilharias,
preso a ícones e mesquinharias,
gastando seu tempo com política inútil, fantasiando alguma ordem.

Mas, acima de tudo, sinto pena daqueles que arrebentam a corrente e não correm.
Ah! Amo não conseguir voar, mas ter precipícios para tentar fazê-lo.