domingo, 22 de maio de 2011

medo e sonho- Roberto Torrance

Vendo um filme triste,
duma vida ou outra
fictícia, e real outrora.
Há um ou outro vicio que persiste,
esgueirando-se como uma cobra.

Pensa que os outros vivem agora
rindo com seus "paus" em riste,
enquanto os marginais se contentam com a sobra?
sabe como dói escárnio em forma de poluição sonora?

Pergunto-lhe se existe,
dentre todos os medos que já viste,
algum que como forma mais vil de tortura,
do que o de que alguém seu medo descubra?

o medo te mantém vivo e sentindo, de que tanto adianta temer então?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cerúleo- Rolando Vezzoni

Meu corpo dá-me um trabalho hercúleo,
dói, pesa e atrofia conforme o tempo passa.
Uma pena que sem ele eu nada faça,
dele não independe meu cerúleo...

(para não tacharem-me por pedante,
meu amigos demônios
já me passo adiante:
O cerúleo é onde ficam seus neurônios)*

*ou da cor de um céu azulado, o que não é o caso.

a poça de óleo- Rolando Vezzoni

Em sua vida as grandes peripécias ocorriam quando estava andando sozinho, olhando a calçada nua e suja, desviando das linhas tão compenetradamente que chegava a esquecer-se do seu caminho, caminho que lhe norteava a um objetivo qualquer, e que esse objetivo (qualquer que seja) não o levava a lugar algum.
Andava, e deparou-se com uma poça de óleo, algo como um arco-íris derretido num trecho deprimente de asfalto úmido, e parou para contemplar aquele trecho de cor no meio daquela cidade chumbo.
Seu reflexo saltou aos olhos, era um sujeito com olheiras grandes e fisionomia desanimada, era um "homem metropolitano" e fazia parte daquela cidade, era tão pálido quanto os cães atropelados que os carros desaceleravam para desviar e seguir com suas vidas. Destoava em meio as pessoas felizes, e sabia disso, seu retrato no asfalto retirou-lhe da dormência na qual se escondia.
Esteve tempo demais naquela lixeira de hospital, cheia de fetos mortos e seringas infectadas com variedades de doenças, naquela latrina lotada de prédios e fumaça, explodindo de débeis mentais e cegos, agora tudo aquilo lhe incomodava mais que nunca, não se sabe o quão ruim até conhecer o diferente.
Ficou horas ali, defronte aquela aflição de água e óleo, ele e os outros. Seu pescoço latejava como nunca pela posição incômoda, cansou-se, entrou para a esquerda rumando o meio fio, viu o caminhão chegando, cerrou os olhos e contou: Um... Dois... Três...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma poesia leva mil elefantes.- Rolando Vezzoni

Uma poesia leva mil elefantes,
cinzas, devastadores e elegantes.
tento escrevê-la num tom rouco,
ou, se uso palavras muito belas e galantes,
sempre escondo um pedido de socorro.

Uma poesia leva mil elefantes,
no meu bolso levo esse animais tão fascinantes.
A minha alma jaz nas poesias vacilantes.
A vida vivo em verso, parágrafos eu corro.

Uma poesia leva mil elefantes,
devagar lembra tudo que veio antes.
O bom escárnio pelas coisas importantes.
Que me lembram que depois de cada dia vivo, eu morro.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

o coração bate mais devagar no peito de um porco.- Rolando Vezzoni

No mundo despendendo interesse discreto,
amiudando toda perda de tempo cretina.
Há um coração de homem em mim que sou um porco.
Um porco cardíaco e preguiçoso olhando o teto,
sabendo não ser tão fraco,
mas não aguentando a luz me tocando a retina.
As vezes evitando outros por perto,
mas só quando estou meio morto
ou de saco cheio da vida e da rotina.
Sabe? O coração bate mais devagar no peito de um porco.

marginal?- Francisco Knulp

Ele tendo visto o que se havia para ver,
viu um mundo todo torto,
por querer tanto chorar, chegou a rir.
Não deu para entender,
a razão desse mundo ser todo escroto,
e dalí apenas queria, acima de tudo, sair.

Pendeu para a esquerda da ponte,
antes de ele cair.
Com suas costas roçando na areia e seu rosto no mar,
naquela margem de tudo conheceu um monte,
monte de vidas outras que tentaram fugir,
entendeu que nada fácil será com sí mesmo lidar.

Ele é afinal,
um marginal.