quarta-feira, 31 de agosto de 2011

o homem abstrato, episódio 1 - Rolando Vezzoni.

gabi entra na sala...

gabi diz:
oi, tudo bem? quer tc?

bochecha diz:
claro, pq nm

gabi diz:
quem eh vc??

bochecha diz:
eu sou eu, quem mais haveria de ser?

gabi diz:
afff...

bochecha diz:
eu acho que a melhor pergunta a ser feita é.... '' qual é o seu nome ''

gabi diz:
tá bom, mais qual eh a diferença, eh a mesma coisa!

bochecha diz:
nao, veja bem... eu sou mais que o meu nome, imagine quantos carlos existem, ''quem é você'', tem significados muito abrangentes, muito subjetivos!

gabi diz:
entao vc eh carlos?

gabi diz:
*quer dizer, vc se chama carlos?

bochecha diz:
na realidade, eu me chamo carlos da silva, como muitos outros, eu poderia me chamar jorge que nao mudaria quem eu sou.... eu posso ter chamado jorge em outras vidas, ou terem me adotado e mudado meu nome de jorge, para carlos, nao se pode ter certeza de nada.

bochecha diz:
falando relativamente, se é que me entende...

gabi diz:
ta bom.

gabi diz:
tchau

gabi sai da sala...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

As merdas da vida. - Ivy Zanchetta

O que você faria se soubesse que alguém, em algum lugar do mundo, quer te matar? Você pode não se importar, o mundo é pequeno o suficiente para você se esconder, mas grande o suficiente para essa pessoa não te achar. Você pode pensar que essa pessoa provavelmente está longe o suficiente de você para que a preguiça de procurá-lo seja maior que a vontade de matá-lo; ou você pode pensar que do mesmo modo que ela pode estar na China, ela pode estar do seu lado, o que te transformaria em um louco psicótico desesperado que sairia matando a todos que te dessem um olhar atravessado na rua ou na cafeteria da esquina.
A questão é: o que te incomoda mais? O fato de alguém querer te matar, ou tudo aquilo que você perderia se alguém te matasse? Poucas vezes as pessoas param pra pensar em tudo aquilo que elas perderiam se morressem, seguem sua vidinha sem graça e cheia de esperança de um dia se tornarem pessoas significativas na sociedade. A verdade é que elas nunca vão passar de vermes se proliferando no cantinho mais escuro e fétido de uma cidade. Pessimista? Insensível? Talvez, mas a vida é assim.
Para você que ainda acredita que um dia a sua vida vai sair desse estado praticamente eterno de estagnação, ignore esse último parágrafo e continue a sua linda e pomposa vida sabendo que eu estou rindo, com as mais sinceras gargalhadas, de você. Talvez eu tenha me esquecido de avisar que caso você seja religioso, sensível, ignorante ou intelectualmente insignificante você deveria ir ler a revista de fofocas mais próxima, o que sem dúvida alguma, te trará mais alegria do que ficar horas sentado lendo cada palavra ou frase em um loop infinito até que você entenda o que eu estou tentando dizer.
Pessimismo e sarcasmo a parte, continuemos. O que você faria, agora, se ao invés de saber que alguém quer te matar, você tem que matar alguém? Uma pessoa que você não conhece, uma pessoa que não faz diferença na sua vida. Como você o faria? Rápido e sem torturas para que ela não sofresse, ou se fosse alguém que você odeia; levaria seu tempo, fazendo cada centímetro da faca (ferramenta escolhida por você para causar mais dor ao individuo) penetrar nas entranhas da pessoa até que cada fibra, cada célula, cada tecido se separe dentro do seu abdômen e o sangue escorresse lentamente pelo cabo da faca e no momento que alcançasse sua mão a pessoa já estivesse tão morta e tão inconsciente ao ponto de você poder largar a faca para não sujar suas mãos com a certeza de que a pessoa cairia morta no mesmo instante?
Claro que estamos falando de uma faca bem grande. E claro que isso te tornaria tão psicótico e assustador quanto o cara que sairia matando qualquer um que o olhasse atravessado, a única diferença entre você e o primeiro tipo de psicótico é que você estaria matando por prazer, e o tipo número um estaria matando por que ele simplesmente não tem as bolas necessárias para aceitar os fatos da vida. Mas para você que está lendo e escolheu o segundo tipo de morte, a mais sangrenta e dolorida, não se sinta mal. Eu também escolheria o jeito mais doloroso... Eu já teria que matar alguém, então por que não fazer bem feito, não é mesmo?
Enfim... Aquilo que importa de verdade é que você (independente de ser um psicótico ou não) ainda estaria matando alguém, o que significa que alguém estaria perdendo a vida, o direito de trabalhar, o direito de ver os filhos, a esposa, e continuar a vivendo a triste vidinha dele... O que significa também, que de certa forma, você estaria fazendo um favor à humanidade.
Esse tipo de pergunta é aquele que eu tenho me feito durante os últimos quatro anos da minha vida. Estou constantemente rodeada de pessoas que não merecem nem metade do oxigênio que respiram, e até uma planta é mais inteligente que todas elas juntas e me fariam muito mais feliz do que elas fazem. Ou melhor, menos triste, pois não consigo me lembrar um momento se quer em minha vida o qual qualquer um deles me trouxe uma gotinha ou no mínimo um vaporzinho de alegria, ou qualquer outro sentimento que se pareça com satisfação e aceitação.
Mas o problema é... Eu não posso matá-las. Pessoas têm pais, tios, irmãos, avós, primas, avôs, cunhados, namorados, sogras, tias avós, primos de primeiro grau, de segundo grau e assim por diante. E a verdade é que eu não tenho paciência pra lidar com todos eles. Esse é o principal motivo pelo qual eu me torturo e tolero as pessoas insignificantes, por que eu aposto o meu fígado, parte do corpo pela qual tenho particular afeição e zelo, que os parentes são tão ignorantes e repugnantes quanto suas crias.
Mas chega de falar de morte. Vamos pensar na vida. A vida na verdade é uma merda. A sociedade é uma merda, o governo é uma merda, as pessoas são uma merda, o café aguado e mal feito que eu tomo pela manhã é uma merda. E a porra da lei de Murphy?! Ta aí um cara que eu odeio sem mesmo ter conhecido. Malditas são as vezes que o meu pão sempre cai com a parte que tem manteiga virada para o chão.
Não vai fazer muita diferença ficar falando da vida ou da morte, quando na verdade ambas são uma merda generalizada. A única coisa que elas tem em comum é o ser humano. O homem é uma coisa um tanto quanto fascinante por diversos motivos, motivos os quais me fazem querer viver e me dão vontade de conhecer mais, por mais estúpido que seja o meu objeto de estudo, o ser humano. Eu não tenho curiosidade em saber como o homem vive, sinceramente pouco me importa, o que me intriga é por que o homem vive, afinal todos nós temos uma razão de viver que não é explicada pela grande casinha de bonecas chamada Igreja Católica ( ou até mesmo aquela que seus pais te deram pra você brincar de adulto quando era pequeno.. Você adoraria que aquilo fosse verdade nao é mesmo?). O homem só viverá enquanto pensar e tornar idéias mais complexas, no momento que parar de refletir ele não encontrará mais motivos para viver. E todos nós temos coisas para pensar.
Se você está achando tudo muito pessimista até agora, aí está a sua segunda chance de desistir dessa leitura, por que não vai ficar muito melhor.
Vamos falar de mim um pouco... eu sou uma velha presa em um corpo de uma adolescente de 17 anos, que tem uma perspectiva pessimista do mundo e da vida. Sem paciência, sem vontade de conhecer as pessoas e sem o menor interesse nelas. Muita gente não consegue entender por que eu prefiro animais à pessoas, e eu tenho um grande problema em aceitar essa dificuldade. O animal é tão puro, inocente, cheio de bondades e ao mesmo tempo tão manipulador e cheio de vinganças que é capaz de confundir qualquer um e dominá-lo com um simples abano do rabo.
Mas não são só pessoas que me irritam, não. Quem me dera fosse. Tem tantas coisas ingratas nessa vida que me deixam desgostosa de viver... Como por exemplo o Sol na sua cara de manhã, tem coisa mais inoportuna?! Você acorda depois de 6 horinhas vagabundas e interruptas de sono, se arruma e põem uma roupa que você julga ser o suficiente pra causar seja lá impressão que acredita ter que causar no seu meio social,toma aquele cafezinho pobre de pó, e sai de casa. Não dá cinco míseros minutos e a estrela já está iluminando seu rosto, machucando os seus olhos e te dando uma dor de cabeça que você acredita que vai até a sua bunda.
Filhos. Que raça desgraçada, não é mesmo? Cuidam, pagam isso, pagam aquilo, ajudam aqui, ajudam ali, e os filhos nunca estão felizes o suficiente, sempre incompreendidos, sempre injustiçados e sempre inocentes. Não conseguem reconhecer o esforço que fazem pra bancar seus fetiches capitalistas e nem capazes de entrar em uma faculdade pública eles são! Mas que merda, não é?
Já os Pais.. Ah! Esses são perfeitos. Não tem um se quer defeito, onipresente e onipotente, sempre certos e com o caminho certo a te iluminar. Sempre tentam te ajudar e te guiar para o caminho da luz, para o caminho certo, longe das más influencias... Ah! Mas quanta bondade aturar seus filhos!
Que vida de merda. Como se já não bastasse temos que cuidar de nossas vidas temos que cuidar da vida dos outros! Ou melhor.. Ao mesmo tempo que cuidamos de nossas vidas temos que cuidar daquela que nosso amigos pensam que nós temos e daquela que seus pais pensam que você tem. Mas quem é você realmente? Quem você é quando está nu, despido de pressões externas, e trancado, sozinho, em seu banheiro? Que musica prefere dançar sozinho quando está obducto da sociedade?
E por que o banheiro? Oras.. todos nós sabemos que o banheiro guarda todos os segredos mais ocultos de qualquer ser humano, pelo menos foi o que um conhecido me disse. Mas veja bem... Eu odiaria que analisassem meu banheiro. O que lá se encontra é tão complexo e convoluto que só de pensar já me dá arrepios, nos pelos e nos cabelos ( que bem na verdade são longos pelos), iguais àqueles que no banheiro se encontram formando uma névoa sobre o assoalho e poluindo a visão de quem lá pisa.
Ninguém deveria entrar no banheiro de ninguém, e ponto final! Ta ai uma outra coisa ingrata e inoportuna da vida. Os Xeretas! Tem tanta sede de viver a vida dos outros que se esquecem que as vezes o que vem é a água do ralo. Já é difícil beber a água de nossos próprios ralos, imagine o dos outros?! Não entre no banheiro de ninguém se não está disposto a lidar com os entupimentos dos outros.
O problemas de ter um banheiro, é que uma hora ou outra você acaba o analisando. Não agüento mais me analisar, me descaraminholar nos meus pensamentos. Me perco neles, e analiso minhas análises, desanalisando e reformulando. Formulando e decifrando.
Quero deixar de existir no espaço mas continuar pensante no tempo. Quero me projetar no nada e no tudo. Mas eu não posso fazer isso, por que eu tenho um banheiro. E um banheiro cheio de problemas. E tem pessoas que se importam com esse banheiro.
Mas que vida de merda. Nem no meu próprio banheiro eu tenho paz. E o tormento vem de dentro! Que inoportuno...
Mas se a vida fosse fácil ninguém nascia chorando e apanhando. Se a vida fosse fácil se chamaria vadia, e não vida. É... a vida é mesmo uma merda, e ninguém vai sair vivo dela.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Cade o piano tosco?- Roberto Torrance.

Sonhei que via pessoas andando em ritmo acelerado, era tudo preto e branco como num filme do Chaplin e tocava um ragtime que parecia vir de um piano tosco.
Tentei gritar, mas tudo que consegui foi uma tela escrito "AAAH!".
Fui em direção a uma tela gigante e cá estava vida cotidiana.
Ainda a cidade é cinza, as pessoas correm e ninguém escuta os gritos, mas pior, pois a vida não tem trilha sonora.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Léxica Disléxica-Bruno Santana

Para a métrica: Paramétrica
Aristotélica: Dialética
Hermética: Profética
Léxica disléxica

Cadavérica
Homérica
Tétrica
Provérbica

Novela estética
Análise sintética
Uma Versão fétida

Aristotélica estética Homérica
Métrica dialética
Poética da Léxica Disléxica

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

o homem de 200 mil neurônios- Rolando Vezzoni

Sua retina fatigada cansou de ler, ele lia muito, trazia algum conforto, uma capacidade e um diferencial, alimentava seu ego e lhe dava a capacidade de entender as coisas com mais clareza, mas ainda assim, cansava muito e pesava.
Estampou sua testa na mesa e respirou fundo... "o que estou fazendo?" pensou confuso "o que eu estou procurando?", logo cerrou os olhos, respirou fundo e tossiu "merda!", dormiu.
Ao acordar sentiu-se estranho, a dor nas costas havia passado um tanto "estou doente, está tudo dobrado, dobrado não, multiplicado por cem!".
Percorreu o caderno, não entendia o que estava escrito, e porque estava tudo tão imenso e implacável.
Esqueceu. "estou com fome", e saiu voando para uma garrafa que emanava açúcar, pousou e sugou um tanto.
Esqueceu. "estou preso" saiu voando para algum lugar e pousou no cachorro que estava dormindo no chão, este, ao sentir algo na orelha acordou e tentou engoli-lo, mas ele foi mais rápido, tinha sentido que algo ia acontecer e foi embora.
Esqueceu. Voou até o caderno e pousou "aqui está bom!", e ficou.
Esteve lá, sentindo a luz do sol que entrava pela janela lhe esquentando, e ficou, e esqueceu, e ficou, e esqueceu, e ficou...
"um terremoto!", tentou voar mais apenas conseguiu descolar a testa da mesa e pegar o celular instintivamente para atende-lo "alô!?...ah, ok, beijo", suas costas estavam doendo, se inclinou para traz e as sentiu estalar, olhou aquela imagem de tudo para se situar, e lembrou.
"Uns veem loucura, eu vejo uma ideia." pegou seu lápis, "que merda!", tossiu uma tosse asmática e seca, e lembrou da semana toda, lembrou que dormir sentado dá dor nas costas "eu só queria esquecer, não saber, e me ocupar sem antes me preocupar... como uma mosca."
Escreveu no seu caderno, e aquele momento transformou-se em signos e desenhos, algo com um significado atrelado para aquele que estivesse disposto.
As palavras não lhe representavam nada, eram inertes, eram pobres e doloridas.
Escreveu com desdém, não acreditava mais naquilo, que tanto importa registrar algo?


"As moscas tem um cérebro de 200 mil neurónios e células gliais (as células da nevróglia, tecido de sustentação, nutrição e suporte do sistema nervoso) contra os 100 milhões do cérebro humano.
Mesmo assim, é capaz de interagir e de realizar comportamentos complexos, como seja o reconhecimento da comida e de adaptação a mudanças climáticas. O seu genoma está completamente sequenciado."
Laboratório do Desenvolvimento, Evolução e Plasticidade do Sistema Nervoso (CNRS, Gif-sur-Yvette, França)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

(sem título)- Rolando Vezzoni

Homem projeta-se Príapo,
para seus amores.
Mulher projeta-se Afrodite,
para seus amores.
No fundo inconsciente,
pouco importa Atena,
ou qualquer divindade inteligente.
Haverá no limbo alguma alternativa?

porque Sartre, porque?- Rolando Vezzoni

não escrevo mais a tempos...
não dou mais atenção as letras que tanto amo?
meus poemas, meus rebentos...

o que há no conforto que me acaba?
o que há no conforto que me reprime?
nada além de um poema pode exprimir essa dor por nada.
a dor não vale nada?

Sartre, se não houve angústia, porque a náusea?