quinta-feira, 8 de novembro de 2012

Em tempos de bichos escrotos(parte 3)- Rolando Vezzoni


Estava com a típica cara de desamparo que carregava há alguns dias, mas já ia se acostumando com o contexto, o problema agora era outro, havia seguido o brilhante conselho dado por seu "novo" amigo:
 Não contar sobre sua recente perda de memória para sua namorada do século passado... Mas como o destino tortura os justos de forma sempre sádica e divertida, repassava os resultados num bar, fim de tarde carioca.
-Ahahahahahahhahahahahahahah! neeeeeem fudendo!
-Cara, não ri, na moral...
Aparece um engraxate que simplesmente começa a “lustrar” seu chinelo de hospital.
-Ei! o que cê ta fazendo?
-Já foi tiu, começou pagou! – convicto o pentelhinho.
-O quê? essa merda é de pano!
-Num vai piorar!
Peralta se introduz no assunto:
-O pivete tá certo, esse seu chinelo ta ridículo...
-Eu nem sei por que eu to com esse chinelo, mas é o único calçado que eu tenho!- cansado demais para impedir o pivete- Como eu vim parar usando isso?
-É bom não lembrar cara, é bom não lembrar...
O engraxate emenda rindo:
-Paulistano é tudo maluco... Vem pro rio fazê cagada!
-Ninguém ta falando com você!- respira fundo- Melhor não saber?
-Tem a ver com seu pai “trinta quilos mais novo”, uma arma e um LP do Pink Floyd.
-É, eu não quero saber...- a desistência é o melhor caminho em determinadas situações... Seu tio era um sábio vagabundo, que devia estar tirando meleca do nariz naquele momento temporal... - ele me reconheceu?
-Cara, você num nasceu! Bom, enfim... Eu fiquei curioso com essa história com seu- em tom jocoso - "broto legal".
Ignorando o pentelhinho e o tom do Peralta conta o ocaso de seu desespero:
-A coisa é essa, eu tentei agir da forma mais natural possível, certo? Fui lá, dei uns beijinhos e tava tudo pronto pra ação... aí, quando eu fui verificar o subterrâneo ocorreu o problema...
-hum...
-Por alguns momentos eu havia me esquecido do contexto, mas eu acabei me lembrando quão recente era a playboy da Claudia Ohana e aí a porra ficou séria, lembrei da década, dos paradoxos e o cassete, aí me bateu um esgotamento e aí...
-Aí não subiu!- Rindo alto.
-A moça era ruim assim?- depois de deixar o chinelo completamente preto e borrachudo.
-Não cara, é gatíssima, ele é o problema!
-Cara, vai à merda!
-Meu... Você broxou com tipo, “menos vinte e cinco anos de idade”, deve ser algum tipo de recorde!
-É, paulistano broxa! Hahahaha! Cadê o dinheiro do serviço?
-Fica na sua, você é um pivete virgem, como pode saber que não ia broxar se estivesse no passado?
-Pirô? Eu fico duro vendo até novela do Globo! Fora que eu não sei o que tu tomô, mas essa conversa ta estranha pra caraio!
-Daqui alguns anos as novelas vão ser as primeiras punhetas do seu filho, de onde eu venho só tem putaria às nove na TV aberta.
Peralta cessa as risadas e olha sério, sinalizando que era para todos ficarem em silêncio, aí sussurra:
-Ei, os caras tão ali! Não da pra enrolar até a noite, vamos ter que ir embora.
-Que caras?
-Como você acha que a gente ta com tanta grana?- disse sério- ganhamos uma fortuna apostando em resultado de jogo de futebol, que claro que eu manjava... Quebramos o ganha pão dos caras, e agora eles acham que temos algum esquema e querem pegar agente!
-É deles que estamos fugindo então!
-Deles e da polícia... É que a gente meio que não existe ainda, e temos grana de aposta... Fora que todo mundo mamava no dinheiro das apostas... É foda cara!
-Então por que caralhos a gente foi ontem no pesqueiro perder tempo falando com aquele maluco do Serguei?
-Meu, ele comeu a Janis, eu tinha que falar com ele... Aqui ele ainda é comunicável.
-Mais ou menos...
O pivete que não estava entendendo o que estava acontecendo, porém estava bastante decidido a respeito do que faria:
-Não quero saber, ou eu vou junto contigo ou chamo os puliça e os nego maluco.
-Tá. Vem logo caralho, vai com sorridente aí, eu vou buscar a minha mina e as coisas no hotel... O mais rápido possível, não sei dizer que horas porque meu relógio ta uns trinta anos pra frente.
-Ei! Tio!
-que foi?
-broxa! Hahahahahhaha!

(continua)

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