segunda-feira, 27 de junho de 2011

topada- Rolando Vezzoni

hoje de manhã acordei,
ah, que vida porca!
bati meu dedo minguinho no canto da porta!

A porta se chama mundo,
eu saí de casa mancando.
e meu dedinho ficou imundo.

domingo, 26 de junho de 2011

Sem ressentimentos (ou “o que pensei em dizer, e não disse, nem dissertei”)- Rolando Vezzoni

Conversavam, ele novo, o outro, velho.
-Mas, vive assim mesmo? Faz com que sua vida tome realmente esse rumo?- disse o outro.
-Putz meu, eu não vejo nada que me desanime, ainda que, bom, sabe, todos morreremos mesmo, viver feliz acaba valendo mais a pena do que planejar fazer algo que me torne possivelmente feliz num futuro que pode não chegar, sabe?
-Você diz isso porque ainda não chegou o futuro que há de chegar, a água ainda não bateu no pescoço, a hora que começar a chegar a sua hora, duvido que continue pensando dessa forma, é fácil ter descaso com a vida quando ainda não chegou perto do fim dela, digo isso pois com minha idade tenho uma certa experiência que você não tem.
-Bom, nesse caso não tenho como te responder, não tem como argumentar mesmo, porque na real, a gente só está especulando, e especular é bem fácil, sabe?
-O que estou querendo dizer é que agente acaba se arrependendo de muitas coisas que fazemos, escolhas pequenas ou grandes, as vezes escolher um caminho alternativo é mais um fuga do que uma prova de coragem, ou se destruir é mais um medo de seguir as coisas do que uma vontade de curtir as coisas, entende?
-Hum, acho que entendi.- disse ele de forma que encerrasse o assunto, esse tipo de assunto costuma chateá-lo um pouco, e por mais que tenha como falar algo, não quer desconsertar o cara, pois esse pessoal mais velho costuma ser sensível, e quando se percebem equivocados em uma de suas certezas ficam sem graça, como que se tivessem sido expostos ou agredidos, como uma criança pequena também ficaria, mas com menos descaso.
Andou para sua casa pensando demais naquilo que o senhor havia lhe dito, entendia algo além do que foi dito, ficou dissertando aquela ideia o caminho todo enquanto andava.
Entrou no quarto e pegou uma folha e um lápis e tentou escrever aquilo tudo, mas sabia que não ia dissertar, era muita coisa que queria ali, e odiava dissertar no papel, até curtia falar e tudo, então resolveu que faria um poema, não para ficar bom, mas para resumir aquele monte de pensamentos que não queria esquecer.
O poema que escreveu não ficou muito bom de fato, mas talvez tenha chegado a algum lugar, aqui seguem os versos dele:

“o que pensei em dizer, e não disse, nem dissertei”

Eu sei que posso ser jovem e pretensioso,
que sou ateu e não temo a tal da morte que morre tão distante
e que as consequências dos meu erros estarão me esperando.

Quando estiver mais velho pensando sobre tudo num dia ocioso,
Eu espero que nesse futuro, como agora estou, esteja pensando:

Tomo por certo o que enxergo,
o que já fui, e sei bem que não sou mais,
e nem por isso vejo quem fui como um burro ou um cego.
Aquilo que fiz, quando feito era o mais certo aliás,
pois foi aquilo que decidi antigamente,
e aquilo é o que me fez assim, uma vez que não mais rapaz.
Tento remendar atualmente,
as feridas do meu velho ego
que cometeu erros que não o eram, sem dor,
pois eu vivi aquele, agora passado, sem muito pudor.
Daquele jovem que me fez o que sou hoje, velho
lembro de um fato, do fato de que não havia o certo, e que minha vida ainda era um mistério.

Gênero e Gênio de Geni- Bruno Santana

Mais um maldito
Mais uma mal falada
Outra centena de línguas soltas
Outra leva de diarreia em enxurrada

Geni é Homem
Geni é Mulher
Geni sem gênero
Gêni e o Gênio

Taca bosta na Geni!
Taca merda na Geni!
Ela lava o cú e Sorri ...

Geni é o seu inferno
Geni sofre e sorri
Cospe! Geni é boa de cuspir!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

formidável papo novo!- Rolando Vezzoni

Não tenho o hábito de escrever em primeira pessoa, talvez eu não queira me expor ou algo assim, mas agora isso é irrelevante, ainda porque estou feliz e levemente alcoolizado.
Acabei de voltar de um role formidável, não consigo descrever de outra forma, não fiz sexo, nem chapei, se é o que esperam, simplesmente conversei com dois amigos bem próximos sobre tudo, sobre os filhos que podem vir, se queremos ou não, se seriamos bons pais, se contaríamos que papai noel não existe, como as coisas funcionam, como os filósofos não chegam a lugar nenhum e como isso é frustrante e maravilhoso, como as amizades podem falir ou como podem durar, as coisas simples e as coisas complexas, falamos merda, passamos trotes, marcamos roles que não fomos, e chegamos àquele lugar algum que não esperávamos chegar mesmo, que sabíamos que não íamos chegar, que não queríamos chegar.
Depois de umas cervejinhas e um bom papo chego em casa, com uma gana de fazer algo que não sei por certo, comi um bom sanduíche nada a ver e brinquei com o cachorro.
Nada disso tudo que eu falei é relevante, agora me sinto uma pessoa boa, até peguei o osso de meu cachorro no quintal e trouxe para o quarto para ele ter o que fazer enquanto escrevo, me sinto assim por não ter a carga de ter de ser assim.
Daqui a alguns anos sei que vou lembrar de hoje, uma saída pouco pretensiosa, mas formidável.
Não quero chegar a lugar algum com essa crônica, pois se eu levar a algum lugar só a vou limitar, e também, não estou com vontade, afinal, ainda que esteja feliz, estou no balanço, pendendo prum lado e pro outro, após escutar um pink floyd na rádio com meus amigos floydmaníacos seguido de pistols, meu, eu não quero mais nada, também se quisesse tanto assim, não teria sido uma noite tão formidável, e foi.

* homenagem aos bons amigos, que são bons amigos por agora, o que é muito mais do que qualquer um poderia me dar.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Os Lambe Bolas- Bruno Santana

Não entendemos de poesia.
Não conhecemos melodia.
Não compreendemos sua harmonia.
E o ponto é que não suportamos sua antipatia.

Enquanto estão fadados a lamber bolas de acadêmicos
Levavamos seus filhos ao êxtase
Enquanto entopem o nariz do pó dos livros
As overdoses nos faz heróis de seus filhos

Enfie sua arrogância no rabo
Antes meus amplificadores que suas dores
Antes minha loucura que seus horrores

Até concordo que sabe mais
entende mais, mas me digam
o que isso lhe tráz?

O ralo- Rolando Vezzoni

Seu banheiro estava todo entupido, o chuveiro não mantinha o nível regular da água e vazava inundando o banheiro inteiro todo dia, sua privada demorava a descer a água, e não importava o que fizesse, continuava assim.
Embora as inundações o incomodassem bastante, não queria que ninguém tomasse conhecimento delas, odiava que entrassem no seu banheiro, afinal, era o lugar da sua privacidade, o único lugar que, ainda que não o estivesse usando de fato, podia trancar-se e ficar sozinho, sem interrupções externas para desorganizar sua cabeça.
Ele secava tudo com as toalhas e passava frio até se secar naturalmente no inverno, as toalhas continuavam molhadas no dia seguinte, ele continuava secando de todos os jeitos possíveis e se livrava do lixo das maneiras mais diversas e escrotas que encontrava.
fazia de tudo para mascarar a realidade porca de onde habitava.
Só ele saber já era o bastante, o mundo não tinha que vir e olhar, tentar mexer e julgar, apontar ou comentar o que quer que estivesse causando o entupimento. De uma forma ou de outra era bem apegado ao segredo da manutenção constante do seu entulho, afinal era seu entulho, ainda que não fosse bonito e lhe desse um contêiner de preocupações era a única coisa exclusivamente sua e particular, era um problema seu.
O banheiro dum indivíduo diz mais sobre ele do que qualquer outro algo.
No caso, o que mais poderia ele colocar sobre si mesmo, estando em meio aos conflitos e erros do adolescer, do que um reflexo escatológico da sua personalidade e desleixo deixado para trás?
O tampo passou, e acabou que descobriram o tal do problema.
Tentaram desentupir, falaram que era por causa do cabelo que ele lavava todo dia, das guimbas de cigarro que jogou na privada, ou algum pedaço de boneco que ele derrubou quando mais novo, etc... Em resumo: estava exposto, tinham ali uma chave para sua psique, uma chave que ele temia com todas as forças, não sabendo exatamente porque, mas simplesmente com medo de descobrir ele o que atrapalhava o funcionamento das coisas, o lixo que bloqueava suas artérias, a montante de porcarias que foram se acumulando ao longo dos anos da sua vida pessoal. Podia ser que não houvesse nada de relevante, mas não importava.
O desentupidor dos invasores não funcionou, o que lhe deu tempo para pensar que merda teria ele de fazer para resolver o problema.
Tentou pelo ralo do box, nada.
Tentou pela privada, nada.
Vasculhou o banheiro de madrugada em uma psicose incompreensível, tomado por curiosidade e medo irracionais. Em meio a essa pulsão, encontrou um terceiro ralo do qual havia se esquecido, um ralo bem grande cujo os parafusos estavam sujos, ou seja, que não havia sido aberto ainda. Abriu-o e olhou-o minunciosamente enquanto pensava no que faria.
Demorou algumas horas cuidando da situação, lavou, passou produtos, viu o que não queria vissem.
Aquilo tudo era uma escola, um laboratório de lembranças sujas, estava vendo algo seu, nojento, que nem ele se permitia ver, mas que agora tinha grande interesse.
No dia seguinte, falou com orgulho que o problema havia sido resolvido, revelou apenas que eram dejetos comuns que se acumularam pela má manutenção do encanamento, ou seja, que não havia nada para se ver ali.
Seu segredo estava seguro, se livrou do conteúdo do ralo sem testemunhas, e podia esperar que se acumulassem novas porcarias por ali, mais das suas queridas porcarias.
Ele sabe o que havia no seu ralo, mas isso é problema dele, e ninguém tem que saber nada sobre isso!

domingo, 12 de junho de 2011

bye, bye supermodel - Bruno Santana

Já dizia o velho grosso:
Não sou cachorro pra roer osso!
Não que eu ligue se você for magra ...
Fico puto é se for chata!

Cansei disso:
Eu de Whooper, Você de Salada.
Pára menina! Isso não dá em nada!
Não vê que ninguém suporta essa sua cara de nada?

Mais Verdade, menos Passarela
Mais Sorriso, menos Vaidade
Mais Carinho, menos Saudade

E menina: Fique Feliz se você é assim!
Você, hoje, é a top:
Ao menos, pra mim.

sábado, 11 de junho de 2011

fingindo de morto- Roberto Torrance

O meu tão apurado ver se desapura por tamanha acidez.
Os fatos tão reais são violentamente abstratos.
Hoje não procuro ver tudo assim tão crú, talvez...
até fantasiar algum sentido nesse mar de ratos.
Por um dia ou outro cegando minha lucidez,
nem lembrando dos homens e seus atos,
sentado estou esperando minha vez.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

o que há de ser hoje?- Rolando Vezzoni

Estou sujo, deveras porco, e tudo que eu quero é tomar um banho, um banho que tem que ser tomado.
O dia passou e me deixou novas cicatrizes psicológicas, essa mania de pensar demais nas horas em que o mundo nos pede pensar menos, cada coisa horrorosa que encontro escondida no sol entorpecente dum dia bonito, onde tudo é tão bom que nos massacra.
Entro em casa e pego um tanto de tudo que se tem para pegar, como o bacalhau de ontem com farofa e arroz, empapando de azeite para calar o estômago.
Como tudo enquanto subo as escadas num passo lento e perdido, paro e volto pois esqueci de soltar o cachorro, que sobe correndo escandalosamente, nosso cheiro é parecido com tem de ser, uma vez que dividimos o mesmo cômodo.
Banho, tenho que tomar banho, estou me sentido salgado, chego no quarto assim e arrumo o que tem de ser arrumado e estudo a física que tenho que estudar.
Ainda continuo porco, alucino moscas me rodeando e tento espantá-las nervosamente, ainda que saiba que não há mosca alguma para se espantar e coço minha cabeça de quem não toma banho a dezoito horas enquanto rio da irrefutável prova do meu cansaço me transformando como só ele pode.
Vou ao banheiro fazer... o que tem que ser feito, para me tornar uma vertente desconhecida da escatologia, o catarro da humanidade.
Ligo o chuveiro com a água fervendo e me levo com o vapor ofuscando as paredes brancas, sei que está de noite mas não há escuridão o suficiente, então coloco meus óculos escuros e apago a luz.
Me deito no chão frio do banheiro, sentindo a coluna desentortar aos poucos, não vendo nada, agora relaxando, esquecendo da sujeira há de ser lavada.
Não vejo nada, pois sei que não há nada que deva realmente ser visto, enrijeço-me
esperando o futuro, e dele o que há de ser, ainda sem sê-lo.

domingo, 5 de junho de 2011

"Constipação" literária- Rolando Vezzoni

Tenho tentado escrever, sabe?
Nesse texto, que é mais uma lamúria,
expresso com pouca criatividade minha fúria.
Espero que essa seca de idéias acabe.
O título já diz tudo,
um monte de palavras em estrofe
que não tem nenhum conteúdo.
mas gostaria de dizer contudo,
que um poeta que não escreve sofre,
por isso coloco a ausência de assunto
nesse texto bastante absurdo.

Puro e Amargo.(apresentação ao blog)- Bruno Santana

Puro e Amargo.
Como a vida é.
Puro e Amargo.
Como as pessoas deveriam ser.
Puro e Amargo.
Como o Amor que toma conta da alma dos loucos.

Puro e Amargo.
Para acordar todos os dias.
Puro e Amargo.
Pra acompanhar o cigarro, pra acompanhar a poesia.
Puro e Amargo.
Puro, Amargo e Escuro.