quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Eles?- Rolando Vezzoni

Estavam lá, ele e ela.
-Eu não sei, acho que quero alguém, ultimamente tenho me sentido deslocada, me sentindo quase nada, sabe? É como se faltasse algo, um namorado ia resolver esse tipo de coisa, estar com alguém ajuda muito tudo, o problema é que não acho um encaixe com ninguém!
-Entendo, as vezes eu acordo e não sei bem, penso que ia ser legal acordar e encontrar uma pessoa ali, uma moça com quem eu tenha vivido algo... Mas no fim não é bem assim que a banda toca.
-Hahahahaha! - riu, com seus lábios separados por dentes formando um sorriso sarcástico lindo- -Por que? “Tá” dificil arrumar companhia?
-Nem é isso, companhia se tem, não tem é alguém que te acompanhe.- fechou os olhos amigavelmente e esboçou um sorriso.
-Não faz o menor sentido isso!- disse ainda risonha.
-O negócio é assim, sempre andamos acompanhados, temos com quem conversar, se vale a pena, existimos... Algo assim, você quer algo, tipo sexo, encontra, no meu caso, uma garota que quer também, ai você sai, fala um monte de merda e tenta parecer mais interessante para se vender como um produto, daí consegue o que quer, acorda no dia seguinte, olha para a sua direita vê aquilo, vira para a sua esquerda e pensa,depois volta e observa a parceira como um objetivo que alcançou, fica feliz, aí pensa um pouco e só quer mandá-la embora dali, quer que vá embora, fica nauseado só de pensar na pessoa, quer tomar um banho e dormir, ou sei lá, pular da janela... não por questões estéticas, a questão é que não aguenta aquilo tudo.
-Por que a esquerda?
-Eu gosto de dormir na esquerda.
-Quer dizer que não curte ficar com a mesma mulher mais de uma vez?
-Claro que sim, só que quase nunca... A coisa tem que fluir, você tem que existir ali, e a pessoa tem que ser de uma forma que não te mate aos poucos, não sei explicar, é uma coisa de empatia.
-Bom, eu sou mais quieta, por ser mulher, mas eu entendo... Sei lá meu... É que tipo... Vamos dizer que quando você teve essa aversão, mas ainda tem esperança, eu simplesmente acho que é a questão de achar uma pessoa certa! Não que só tenha uma pessoa certa... Mas que tem que haver mais de uma pessoa certa.
-Justo.
-Agente tem que ter algum sentido na vida, um relacionamento torna isso mais...
-Palpável?
-É!
-Vivemos procurando sentido em tudo, mas as coisas não tem esse sentido todo, acho que um relacionamento não é o bastante para pintar um significado na existência... Mas é bom, porque quando eu estou tendo uma relação interpessoal, me lembro que eu estou ali.
-Você é engraçado, fala as coisas como se a cada momento pudesse desaparecer, como a fumaça de um cigarro, que tem que ser tragada de novo milhões de vezes sempre para estar ali... “daí eu existo”, o que isso quer dizer?
-O mais engraçado, é que eu acho que você sabe bem o que eu quero dizer... Eu sou observador, vejo você se olhando no espelho direto, mas raramente se arruma, parece que se olha para ver se é você que está lá, para se lembrar que ainda está ali...
-... - Parou e o observou com a boca entreaberta, e depois mordendo o lábio inferior, ele queria esses lábios que quando se moviam o apunhalavam o peito- Não sei que dizer... Me sinto aqui.
-Não diga nada... Quando pensarmos nisso, existiremos, essa é uma das tragadas que precisamos para continuar aqui, como se fossemos sombras numa parede impassível, e essa relação, essa conversa, fosse o corpo que projeta nossa existência nessa parede.
Ela riu, eles conversaram mais, ele foi trabalhar, ela foi para casa..
Ela olha para uma parede de seu jardim, vê sua sombra de pé, mais real que ela mesma, fica paralisada, é a primeira vez que se vê, ela está deslocada, a sombra que vê é um retrato fiel, é o espelho que a reflete, reflexão pura e sem cor, uma mancha escura e imperativa... Abre a boca e sussurra para a sombra de forma tão discreta quanto psicótica, a unica pergunta que lhe fazia sentido perguntar: “Eu estou aqui?”

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Como ler as crianças?- Rolando Vezzoni

Viu três crianças andando juntas na rua, uma com um triciclo de plástico e feições nipônicas, e os outros eram gêmeos, todos beirando seus oito primeiros anos de vida, e brindando-os sem saber, numa tarde de ambiente agradável vestidos homogeneamente, provavelmente em razão de serem da mesma escolinha e estarem de uniforme ou algo do tipo.
“Está abafado demais para mim...” pensou observando sem ser visto por eles, depois sorriu em silêncio “Para mim, é claro, para eles, não.”.
Agora os três correm em círculos rindo alto enquanto estabelecem as regras do jogo “Eles se veem como três crianças, sem líder natural...” apertou bem os olhos e passou os dedos pelo rosto por debaixo de seus óculos desviando em seguida seu olhar para o gramado “A criança oriental é apenas outro colega do par de gêmeos loiros... o que fazem com eles para se tornarem adultos?” volta a observá-los, perdeu as instruções da brincadeira, estava perdido naquilo, parecia que os movimentos eram aleatórios e sem nenhuma espécie de sentido “ a pergunta na verdade é: Deveriam fazer isso ?”.
Sentiu-se dormente, ele não existia naquele momento, era apenas um observador daquele teatro que esboçava a próxima geração, ele, um espectro estático e sonolento “Eles não, eles são matéria a ser formada, crescerão, serão postos em situações, farão escolhas, sofrerão as consequências das escolhas tomadas, até se tornarem existências completas e abobadas em sua permanente mutação em busca de algum sentido...” perdeu-se novamente, divagava despretensiosamente “Mas, agora é hora de brincar, deixe-os estar por enquanto...Aproveita ai molecada!.”, mandou esse grito telepático para eles, mas não escutaram, seu maxilar não se movia.
Durante as brincadeiras que iam mudando permanentemente, um dos gêmeos caiu, provavelmente ralou joelho e segurava um pouco seu choro, depois chorou como se fosse sentir aquela dor para sempre, talvez estivesse certo, pois ele sabia que algo estava acontecendo, mas não sabia o que ia acontecer. Os colegas correram em direção a uma torneira de uma casa, desesperados em promover o melhor socorro, mas antes que chegassem, o colega levantou e gritou:
-Gente! “Tô” melhor! Hahaha!- caiu, se machucou e levantou em menos de dez quadros.
-Vem cá!- disseram os dois outros em uníssono.
-”Peraí”!
Foi correndo e fazendo um barulho estranho com o chinelo que batia no chão e depois em seu pé milhares de vezes.
-Olha isso! “vamo” “brinca” na torneira?
Disse um deles(gostaria de saber qual, mas já não importava) abriu a torneira timidamente e olhou o fluxo da água descendo imperativo ensopando o gramado.
E foram molhando os pés como gatos ariscos.
-Mamãe “falô” que tem câmera em todos os lugares, e que agente não pode fazer nada errado porque daí senão ela filma e conta pra eles... Ela vê tudo, que nem deus!
Desligaram a cachoeira particular que criaram e continuaram juntos, mas, desanimados e sentindo uma evidente, tão infundada e inútil culpa. Em seguida os pais os chamaram, acabou a brincadeira.
“É aí que fode tudo!” pensou chateado, virando as costas indo embora, ressentido, triste por ter visto uma épica novela que acaba de modo tenebroso, “Eles já nasceram sendo observados, ainda que não efetivamente”, “Isso é o quê? Um imperativo moral? Não, é apenas uma ferramenta. O olho da providência é apenas uma artimanha cruel da própria cultura, tanto quanto o tempo, e ambos começaram como ferramentas, mas, agora, nos perdemos o controle.”,tomou um poco de ar,“No final, soldamos nossas próprias algemas e passamos essa prisão niilista a nossos filhos.”, parou de divagar, chegou em casa, ligou a ópera pagliacci...
“Ridi, Pagliaccio,
sul tuo amore infranto. !”

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Is there no way out of the mind? -Bruno Santana

to Sylvia Plath



Suicidal writers
Writing their suicide letters
Suicidal writers
Laying in their suicidal beds

Suicidal writers
Wedding death dress
Suicidal writers
Loving their suicidal loves

Suicidal writers
filling pages
trying to empty their minds.

Each page,
one breath.
Every breat, one step closer to death.

terça-feira, 25 de outubro de 2011

Maldito emplasto Brás Cubas- Rolando Vezzoni

Na farmácia eu vi um shampoo
para cabelos secos, rebeldes e difíceis de disciplinar.
Irônico, será que meus pelos tem TDA?
Escutei isso a vida toda e de todos os meios.
Será que existe Prozac para meus pentelhos?
Não quero mais cortar a minha unha, então,
para resolver isso, vou dar sibutramina ao meu dedão!
Quando meu intestino ficar louco, darei-lhe Gardenal,
pois, porque aceitar a si e ao outro afinal?

terça-feira, 18 de outubro de 2011

o homem abstrato, episódio 4- Rolando Vezzoni.

A adolescência:

Voltava ele para onde residia, sua mãe o esperava.
-Filho, por que chegou tão tarde?
-Lembra quando eu te falei de como a linearidade é uma noção pueril?
-Sim, mas isso não é pretexto!
-Bom, eu não uso mais relógio, por isso não me anexei à realidade temporal que você gostaria... Acontece que é difícil lidar com essa régua limitada quando você pensa ´q respeito disso.
A mãe irritada passou a mão no próprio rosto e respirou fundo “sempre foi assim, nunca vai ser diferente”, ainda irritada, olha para ele com seriedade.
-Você está cheirando à cigarro e a bebida, o que anda fazendo nessas festas? Agora você além de toda a esquisitice é fumante? Fumou moleque?!
-O “esquisito” é puramente cultural...
-Eu te fiz uma pergunta!
-Qual a relevância dessa pergunta? Você como sujeito que pergunta entenderá apenas o que for de interesse e coerente com seu conceito pessoal, logo, o objeto, que é minha resposta, não tem porque ser colocado...
Foi interrompido pela mãe que disse bruscamente:
-Quero uma resposta simples e objetiva, não importa qual seja só um sim e um não me bastam.
-Se eu disser “sim”, você automaticamente irá acreditar, e criticará meu sim, logo a resposta não ficaria na simples afirmação, e eu dizendo “não”, provavelmente me perguntaria se é verdade, testando o que eu disse, e depois, por mais que aceitasse a resposta à principio, ainda continuaria a se questionar quanto a veracidade da minha negação... não tem sentido te responder objetivamente, por você lidar com a resposta de maneira subjetiva. Seu pedido é um paradoxo, do qual ninguém sairá ganhando.
-Então você quer que eu simplesmente não te pergunte nada?
-Estou apenas falando que a pergunta é ambígua, você mesma não sabe que resposta prefere, por não confiar plenamente nelas, eu te daria uma resposta limitada para o que ambos buscamos nessa relação de troca a respeito da informação.
-Informação?- disse a mãe com um suspiro desistente.
-É, faz algo ou não faz algo, essa é a máscara da questão, mas as consequências e camadas a serem pensadas não aparecem explícitas.
-”Ahhh”...- disse ela com um suspiro cansado- Desisto, pode dormir se quiser.
-Boa noite querida.
-Boa noite.

sábado, 15 de outubro de 2011

Minha amiga .38- Bruno Santana

Todos os dias, antes de dormir, dou brilho na minha .38. Ela é minha melhor amiga, me aguenta todo o dia, ouve sem reclamar, reclama
quase nada, fala com parcimônia e tem poder suficiente pra me dar a dose exata de medo.
Minha amiga é inteligentérrima, feita de madeira e aço; com espaço para carregar o tanto de chumbo que eu quiser. Isso sem falar
da sua capacidade de disparar estórias; minha amiga dispara estórias como ninguém!

O problema é que suas estórias são sempre um tanto quanto trágicas e machucam.
Acho que é coisa da família dela, eles guardam muitos esqueletos no armário; ela nunca me disse isso, obviamente,
mas é fácil concluir.
Ela sempre me fala sobre quando seus avós vieram pra América, como encontraram uma terra linda, uma civilização próspera, tecnologia
avançada, essas coisas ...
Infelizmente, os patrões deles não pensavam o mesmo e seus avós trabalharam na destruição daquilo.
Ela diz que é por culpa deles que a América é o que ela é hoje.
Juro que não sei se ela é irônica quando diz isso. É difícil entender, a voz dela é grave. Acho seu único traço não feminino.


Para ser honesto eu não gosto quando ela fala de história, ela sempre se emociona e é difícil ver um trabuco daqueles chorando,
é triste e perigoso.

Gostar eu gosto mesmo quando ela começa a falar sobre o sentido das coisas. Um amor! Se refere à isso como "falar de peixes com
peixes". Conhece toda a filosofia que interessa!
Sempre fica me conta a história de velhos barbudos e suas teoria malucas;
gastamos horas nisso!
A última dela foi me falar sobre os cientistas ingleses; uma raça de homens viciados em chá, verdade e provar que Deus não existe.

Isso sem falar dos amigos. O círculo de amizades dela é, pelo menos, dez vezes mais impressionate que ela própria.
Só nesse último mês eu conheci os ingleses doidões do chá, um médico alemão tarado pela mãe [vê se isso pode!], um poeta americano
bêbado tarado [também] e uma poetisa americana viciada em morrer.

Essa poetisa, preciso confessar, fiquei apaixonado. No entanto, resolvi não contar isso para a minha amiga
... vai que ela é ciumenta?
Eu nunca estragaria uma amizade dessas!

Ahhh, minha amiga, você precisa ver como ela é feliz quando fala comigo!
O sorriso de orelha à orelha naquele perfil metálico polido!

Sabe, ela é o tipo de pessoa que pode te convencer de qualquer coisa. Meus outros amigos e família dizem que por isso mesmo ela é
perigosa. Pra mim é dor de cotovelo,
... tem muito tempo que ela é a única que fala comigo.

Poxa, que loucura!


Dizer que minha amiga é perigosa. Não! Não! Eu não acredito nisso!
Ela não é perigosa! Se Fosse, não dormiria todos os dias com a boca virada para mim.
Não é verdade?



me diz, não é verdade?

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Epifania- Rolando Vezzoni

(grego epipháneia, -as, aparição, manifestação)
1. [Religião] Manifestação de Jesus aos gentios, nomeadamente aos Reis Magos.
2. Qualquer representação artística dessa manifestação.
3. [Religião] Aparecimento ou manifestação divina.
4. Apreensão, geralmente inesperada, do significado de algo.


Estava ou dormindo, ou acordado, ou não sabia.
Abriu seus olhos e olhou para o teto do quarto, era tudo igual sempre fora, mas tinha um aspecto insólito, pois seu sujeito estava num estado incomum que tornava o objeto outro algo incomum em seu semi-sono, e, embora estivesse acordado, não estava normal, e tentava dormir.
Tem dois pontos a serem destacados antes de prosseguir com a história: Primeiro, a vida sempre lhe parecera sem graça, o que levou-o a pintar significado naquilo que presenciava e lhe parecia pertinente; Segundo, sempre tivera sonhos que eram mais reais que a realidade, e momentos verídicos que pareciam mais surreais que os sonhos, logo, não fazia diferença a fonte da experiência, e sim, ela em sí.
Prosseguindo:
Repentinamente sentiu-se estranho.
E entre um segundo e outro uma pressão lhe pesou o peito, respirava com uma dificuldade homérica, chegou a pensar que estava infartando "agora já foi, não consigo gritar, e tenho preguiça de levantar.".
Sofreu em silêncio os primeiros segundos, até tomar consciência de que a pressão vinha de uma espécie de corpo translúcido que lhe cobria, e ao tentar escapar de qualquer forma, percebeu ainda que segurava seus braços com mãos pesadas, seu corpo estava paralisado da cintura pra baixo, seus braços tomados e seu tórax enrijecido.
Tentava lutar com sua força apenas, mas não bastava.
No desespero chegou a conclusão de que apenas uma reza sincera poderia fazer com que aquela aparição sumisse.
"Pai nosso que..." "ah! bah! foda-se" "Ave maria mãe do..." "não vai, como dói!", tentava continuar os mantras religiosos que aprendeu em sua infância, mas sempre havia tido aversão á tudo aquilo, nunca fora religioso, tentou budismo, estudou uma ou outra, e no fim desistiu de pensar á respeito daquilo, havia a um tempo chegado a conclusão de que ele era incapaz de ser ateu, agnóstico ou protestante ou qualquer outra... simplesmente era uma negação para a religiosidade, e a qualquer coisa que fosse desse cunho, não era homem suficiente para se dizer ateu, não era sugestionável o suficiente para ser religioso, e tampouco convicto o suficiente para ser qualquer coisa.
Desistiu da reza e se acalmou. "O que é isso?" pensou, e em seguida usou a força que tinha para subjugar o agressor etérico que lá estava, segurou a cabeça da aparição e trouxe a altura de seu nariz.
"Isso não existe! Só vejo por ser isso que minha mente me propôs, e deixa de ser algo, quando e tomar consciência de que é só um trabalho inconsciente que reflete alguma crise pessoal minha!", disse relaxando os músculos e percebendo que não havia nada entre suas mãos, nem ajoelhado na sua cama, nem afligindo sua vida.
E então ocorreu-lhe a catarse: Essa é a prova fenomenológica que procurei!
Conclusão de sua epifania: Ele era ateu.

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Confissões Floydianas em um Mergulho Relapso- Luís Felipe Rasmuss

I - O Despertar dos Sentidos

Levanto-me. Onde estou? O que é este antro onde me localizo? Alguém está aí? Isolado, observo-me diante de algumas garrafas de Jack Daniel's. "Devo ter bebido um pouco demais", penso. Mas tudo aquilo aquilo? Seria o suficiente para um coma alcoólico. Chamo por alguém novamente, mas simplesmente não recebo nenhuma resposta. Decido abrir a velha porta, rangendo. Estou em um chalé em frente à uma praia. Paradisíaca, com o oceano negro margeando minha íris. Meu corpo sente a brisa confortável que abate-se naquele horário. Sete da manhã, talvez? Não sei, mas o sentimento
é de completo abandono. Observo calmamente a floresta de um panorama privilegiado, pois a mesma se encontrava atrás do chalé. Estou rodeado por selvageria. A floresta, verde, e o mar, negro. Eu, um mero mortal, estou encurralado. O que hei de fazer?
Amarula não é uma opção agora. Tenho que agir. Não posso me abster deste sentimento covarde, de enfraquecimento.
Estou sozinho em um ambiente hostil.
Eis que vejo uma gaivota. Ela está voando calmamente sobre um apanhado de rochas na extremidade praiana. De repente, ela voa em minha direção e para a alguns metros, a minha frente. O que devo fazer? A gaivota fala. Será o Jack Daniel's? Não é uma língua qualquer. Não reconheço a mesma, mas com certeza não era minha língua nativa. Entretanto, eu a entendo perfeitamente. É incrível como se nos esforçarmos um pouco podemos entender algo que não está em nosso domínio.

II - O despertar das Reflexões

Um mergulho para salvar o dia. Terei que enfrentar o rígido oceano em algum momento. Brandemos a marcha colossal ao épico conjunto de moléculas de ponte de hidrogênio. O equipamento está de pé. Só quero um momento de reflexão. Retiro o ar do colete regulador. Meu corpo lentamente é adentrado pela água salina. O barulho ensurdecedor ampliado pela condução sonora em água me deixa alucinado.
Aquele ar não é comum! Sinto-me extasiado!
Em minutos, atinjo o ponto mais fundo daquele macabro oceano, que se parece lívido agora. A zona eufótica é um convite a observar as bolhas subindo. Observo-as.
Como é incrível ser uma bolha de ar. Em um singelo movimento humano, elas são dispersas e fazem seu caminho rumo ao infinito, à atmosfera. Sua vida útil nunca se encerra, mas seu movimento é percebido por tão pouco tempo... Oh...
Um som percorre minha mente. Psicodelia marítima. Não, não estou louco. Talvez seja o meu sincero pensamento sob efeito de uísque. A vida é tão simples. Perdi algumas horas sagradas observando o mar. Poderia ter desbravado-o antes. Observar a natureza.
Meus movimentos estão entorpecidos. Talvez o ar tenha sido dotado de uma poção mágica. Mas o racional para mim, neste momento, é um mero coadjuvante. O meu racional está em observar as pequenas estruturas atômicas subirem água acima sob a pressão diminuta da atmosfera.

III - O descansar dos Pensamentos

De volta à atmosfera terrestre, já é noite. O dia passou rápido. Mas será mesmo o dia? O que é um dia, afinal? Uma definição estranha. Ninguém pode medir o tempo corretamente. Exceto as bolhas. Elas sim têm o dom da ascensão ao infinito.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

O vizinho constipado e os mosquitos bêbados- Rolando Vezzoni

Bebia cerveja.
Haviam incontáveis mosquitos no cômodo, aliás, um acabava de pousar no seu braço, provavelmente chupava seu sangue, e embriagava-se inconscientemente do álcool que jazia rodando em sua corrente sanguínea, talvez também fosse assim com as pessoas, estas que bebiam a vida umas das outras, curtiam a existência alheia com “predadorismo” inconsequente, com festas, bares e instituições. Os mosquitos que voavam sobre sua inércia etílica eram tão profundos quantos os Sartres e Nietezches que pensavam a respeito disso, sabiam disso, e estavam cagando pra isso.
Bebia cerveja, se perguntando se os mosquitos ficavam bêbados com o álcool da sua corrente sanguínea.
Lembrou do episódio incomum, ou até paradoxal, que havia havido de ser tão pouco antes, uma discução digna de um dr. Manhatan, mas que foi na realidade com o vizinho.
Porque paradoxal querido leitor? Bom, voltemos para o primeiro contato:
Quando muito jovem tomava cerveja com um amigo no telhado duma casa abandonada, seu antigo monumento do foda-se pré-adolescente, casa essa onde quebrara o cabaço da sobriedade e do sexo.
Estavam rindo dos amigos e amigas “ignorantes” que não ouviam beatles pensando nas ideias hippies da verdade(oh, as ideias ainda eram absolutas, o “all you need is love” ainda era verdade!), e dando severas talagadas da cerveja quente. Quando o vizinho “cretino” gritou e praguejou contra eles, chamou-os de futuros alcoólatras, e disse que se não sublimassem naquele segundo iria chamar a polícia ou a swat ou a tropa de elite ou a nasa, algo do tipo.
Bom, posso dizer que sumiram, e que o sujeito acordou no dia seguinte com todos os pneus do carro furados e com uma peça de merda no vidro dianteiro do carro dele, mas isso não vem ao caso.
Esse foi o prelúdio, voltemos ao hoje.
O tempo passou, a casa foi demolida, as pessoas envelheceram, mas o vizinho estava lá ainda, e ele também.
Ele andava embriagado, ao ponto além da embriaguez que sofria e que tinha uma consciência confusa pelo álcool, ou seja, era a bebedeira que já passava, e lhe tornava alguém normal, daquele tipo que achava que Kafka era comida árabe.
Parou na frente da casa desse sujeito antes citado, o conflito havia ocorrido faziam cinco anos ou mais, eram três da manhã e o cachorro cagava no jardim da frente deliberadamente, riu, seu cachorro lembrava ele mais novo.
“PAFT”( foi a melhor onomatopeia que me ocorreu), a porta bateu, o sujeito saiu da casa e disse:
-O que você está fazendo na porra da minha casa!??!?!
-Você realmente se importa com isso?
-Seu cachorro tá cagando na porra do meu jardim!
-Não grite, já é tarde, quer uma cerveja? Sabe, somos vizinhos a uma década, não tem sentido isso...
-que?
-Bom, você já devia estar acordado mesmo, tem o quê a perder? E além disso, é a segunda vez que te perturbo, e é a segunda vez que me ameaça, isso não terá fim se você não mudar de temperamento, sabe, é você que tem que ser maduro, tem umas três décadas a mais que eu.
-Ah, tá bom.
Sentou do meu lado, era um cinquentão careca e peludo, com um pijama do Snoopy, pegou a cerveja.
-Jovem, não entendo, o que você esta fazendo sozinho na rua a essa hora? Cade os seus amigos e a mulherada?
-Bateu uma ressaca de gente conhecida, to de saco um pouco cheio da masturbação mental cotidiana...
-Hum- disse tirando beedies do bolso- fuma?
-Tabaco indiano? Claro.
Ficaram admirando a fumaça dourada pela luz amarela do poste.
-Sabe, na minha época eu não bebia com velhos na rua de madrugada, só pensava em arrumar uma buceta, ou que vestibular eu ia prestar, como seria meu futuro.
-Hum... o que acha disso hoje?
-Minha vida é uma bosta perto do que eu imaginava.
-Ah... Niilismo acaba com as pessoas, eu não, tenho outro problema, não entendo como se prender a isso, me falta ímpeto pra traçar planos efetivamente.
-Mas parece bastante inteligente, como pode ser tão desiludido.
-Já olhou a sua biblioteca e percebeu que não tem mais volta?
-Não leio muito, minha única biblioteca é de pornografia, guardo no criado mudo da minha ex-mulher... nada tem volta.-Você só entende a vida quando fica constipado, a prisão de ventre é uma anedota da existência- disse apagando o cigarro.-, você quer se livrar de tudo que engoliu, não consegue e enfiam alguma coisa no seu cu pra soltar a merda toda que tá la dentro antes de você explodir, daí vão te enchendo de merda de novo.
-Sabe, agente vai morrer eventualmente, não sei se vale a pena passar a vida como um bêbado, mas passar com o cu entalado também é bem insuportável...
-Deve ter alguma espécie de meio termo mais suportável...
-Bom, quem sabe bater bem forte com a cabeça e se tornar um imbecil...- disse dando um peteleco na bituca que ficou fumegando no meio da rua.
-Acho que não, você pode se enganar o quanto quiser, o mundo todo tá nadando no mesmo esgoto.
-Pode ser, o que você faz?
-Eu fecho os olhos, esqueço da minha impotência e fico constipado, vou me conformando, você?
-Bebo e caço mulher, como, faço o mínimo na escola, me escondo atrás de livros... no fim, acho que também fecho meus olhos, só que da minha forma, e vou caminhado.
-Ah! Foda-se.-disse matando a cerveja.
-Justo, foda-se.
Levantaram e foram andando para as suas casas.
Agora tomava o fim da ultima cerveja do engradado enquanto lembrava disso.
Bebia cerveja, sabendo que quando dormisse, não ia sonhar.

sábado, 8 de outubro de 2011

All that Jazz- Bruno Santana

All that sax
All that bass.
These sound is annoying me
I can't even hold my cigarrete.

Please, start the trumpet!
Play the trumpet!
There's no way back,
I can't even taste my cigarrete.

Stop the drums
Don't play the dreams, it's jazz;
I can't even smoke one more cigarrete

Come on lady, bring me the scotch
come on lady ... come on lady ...
after you i'll try the cigarrete.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

o homem abstrato, episódio 3- Rolando Vezzoni.

Prelúdio:

Nasce, toma um tapa e não chora, regurgita.
Tinha cabelos, unha e olhos abertos, era uma pequena aberração, lá descambou a existência, foi abraçado pela mãe, acolhido, seu pai sorria ao seu lado, era um bebê normal.
Bebê que pelos seis meses não demostrava emoção(que não choros por comida, claro).
-Doutor, meu filho tem algum problema?
-A bateria de exames mostrou ele normal, função cognitiva normal, pode ficar tranquila senhora.
Deixavam o bebê ao lado da televisão, papai assistia documentários pela metade, bebê, até o fim.
Mamãe sentiu algo errado quando leu nos bloquinhos do bebê, com seus um ano e tanto:
"N A D A"
Papai ouviu bebe com seus dois aninhos resmungar algo, chamou mamãe, que tinha orgulho e medo pelo
aparentemente super-dotado:
-Que foi que o meninão disse pru papai?
-é filhinho, foi mamãe?
Tudo que receberam foi "não", um não categórico, embaraçado e simples, uma simples negação, que muito provavelmente não fazia sentido algum para ele, apenas... "não".

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Efêmero- Rolando Vezzoni

Sujeito parado, sentado e desanimado,
num verde e velho banco.
Sujeito pisca, risca e rabisca,
num caderno novo e branco.

Vento repentino, vespertino e cretino,
ventou a folha leve e escrita.
Poema voador de dor e amor,
fluiu na brisa leve e maldita

Houve um olhar apático e compenetrado,
para o belo poema que pariu.
Houve um olhar estático e magoado,
para o velho poema que partiu.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

O que é amor?- Fernanda Mendes

Este texto não é mais um que fala de um sentimento ao qual as pessoas se prendem, pois vêem em outra a sua “cara metade”. Este trata de um significado de amor que as pessoas conhecem, mas passam por cima.
Isso só se apresenta às pessoas que estão submersas em um vazio, solitárias, e vêem no outro a chave para a liberdade.
Muitas pessoas subestimam o “Amor Platônico”, mas a verdade é que, o nosso sentimento é baseado nele. Nós, seres humanos, somos sentimentais, movidos pela emoção. Vemos em outra pessoa nossa idealização de ser humano perfeito. O que sempre fazemos de errado, é insistir que essa pessoa possa mudar de maneira a se tornar o que eu quero.
Muitas das vezes quando ouço “ vou pegar geral!” , reflito sobre a nossa condição humana. Na maioria das vezes as pessoas fazem isso, porque não se acham capazes de gostar para construir um relacionamento sério, ou, porque aqueles que querem algo sério não são tão bonitos quanto os desejos de consumo.
Na verdade, quando agimos dessa maneira, valorizando a quantidade, caímos em um vácuo, e perdidos neste buraco negro aumentamos ainda mais nossa plenitude de desconforto e descontrole.
Acareamos uma situação de aporia, fingindo ter o controle, nos achamos soberanos, mas não nos damos conta que ao invés disso, sequer encontramos os caminhos que nos levam as respostas para os questionamentos mais singelos de nossos íntimos.
Presos a um sistema inabalável, inatingível e intransponível, como em um poço de areia movediça, quanto mais nos debatemos, mais rápido ele nos suga, e se vivemos de forma alienada, a concordar com ele, a morte súbita se distancia, e conseguimos fingir que sabemos o que é amor, paz e esperança mantendo o medo em lugar seguro, não vivemos, mas sobrevivemos.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Numa noite sem estrelas, dance com insetos- Rolando Vezzoni

Estava sozinho em casa lendo,
liguei a televisão e coloquei no canal de música, jazz clássico, e deixei rolar.
Respirei fundo e aumentei bastante o volume, tocava uma música sem vocal, só som, levantei e fui até a porta, acendi um cigarro, a musica prosseguia com alto e bom som, suave, leve.
Respirei fundo, e fiquei sem pensar, meus pensamentos haviam sublimado com a música, me deixando bastante confortável, o bastante para sentar no chão e olhar para cima, era uma noite comum de São Paulo, seca e relativamente fria, com um céu chumbo bem escuro, imperativo.
Comecei a estalar meus dedos junto com a música, fazia tempo que não aproveitava uma musica tanto assim, balancei minha cabeça devagar e deslisei meus olhos para o alto á esquerda, onde havia um poste de luz o qual lembrava aqueles antigos á óleo, mas a luz que vinha de lá era branca, prateada como a lua que se escondia atrás da poluição metropolitana, ao redor havia uma infinidade de insetos que iluminados por essa luz pálida me lembravam estrelas, mas ao invés de paradas, divagavam desordenadamente, em ritmos diferentes como os da musica que ouvia(seria dodecafônica?).
Aquele retrato me cativou de forma que fiquei uma centena de anos olhando, não pensei em nada além daquele balé de insetos embalados pelo jazz clássico.
Quando a cidade anoitece sem silêncio, coloque um "sax" por cima, quando sem lua, acenda um poste de luz branca e branda, e acima de tudo, numa cidade sem estrelas, dance com os insetos.

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

(sem título)- Rolando Vezzoni

A bebida é a falha, o homem de fato
e o mal humor, é a sequela por se-lo.
Sou infeliz por ser homem.
Quando sóbrio, sorrio á infelicidade,
ando fingindo ter um objetivo,
quando na verdade,
casei com uma vida sem sentido,
e quando deixa-la...
O homem continuará constipado, e sendo punido.

Por isso a falha é tão doce, nos aproxima do inexorável fim com efeito entorpecente!

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

O que fica- Bruno Santana

O que é o poeta?
Cinza de cigarro batido,
página de diário esquecido,
dor de amor remechido?

Qual sua ocupação?
Vadio,
Deus,
Irmão?

Nada!

O poeta é o nada!
Em nada se ocupa;
em nada ajuda ...

Ajuda na labuta [Chico]
Ajuda na cicuta [Sylvia]
até se a rima é fajuta [...]

o homem abstrato, episódio 2 - Rolando Vezzoni.

(a infância)

-Sr. diretor, está tudo bem com meu filho?
-Olha sra. Silva, estamos muito preocupados com o seu filho...
-Mas, o que houve?
-Veja bem, já havíamos percebido a um tempo que ele é pouco interessado nas aulas, aéreo, o que é comum num menino de sete anos, mas essa semana ela não fez nada, passou as aulas desenhando, e se recusa a fazer a lição, e mesmo depois de insistirmos e o colocarmos de castigo continuou sem faze-lo.
-Oh! Ele sempre foi uma criança diferente, mas não imaginei que fosse dar esse tipo de problema! O que falaram para ele?
-Falamos sobre o "certo e o errado", e como ele deve fazer as coisas, mas ele não conseguiu entender, acho que pode ser necessário encaminha-lo a um terapeuta!
-Vou falar com ele, e ver se sai alguma coisa, onde ele está? Oh! meu filhinho!
-Está naquela saleta.
...
-Amor, é a mamãe, preciso conversar com você... por que não tem feito as lições?
-Por que eu não quero, não é legal e é burro!
-Mas o certo é fazer a lição, e é errado desobedecer as regras, você consegue entender isso?
-Uhum, só que não tem sentido, mamãe.
-Como não meu querido? Fala pra mamãe.
-Cada amigo que eu pergunto o que aprendeu que é errado, muda tudo, a professora e o diretor e você também!
-...
-eu não gosto de lição, eu não quero mais! E se cada um tem seu certo e seu errado, eu também tenho o meu! Não quero ser chato e bobo que nem o pedrinho, que faz tudo certo pra todo mundo e por causa disso acaba fazendo coisa que não gosta e que um outro menino ou menina não gosta!
-...
-quem anda te falando essas coisas moleque!??!?!?!?!?
-ninguém mamãe...

...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

apenas humano- Rolando Vezzoni

Numa conversa percebi, que pouco me importo.
-S-seu nojento individualista!
-Que absurdo!-e ainda praguejam- Egoísta!
Para que tanto se preocupam como penso, como me porto?
-E quanto...- procuram me expor. -as crianças da África?!
-Prefiro-as felizes, mas se não, não ligo.
-Eee... a extinção da arara azul? -insistem - como fica?!
-Que posso fazer se não é comigo?
-Como pode ser tão frio?e quando ama alguém?
-Amo as pessoas que amo com um amor egóico...
amor que ama, claro, amo e sinto falta também!
mas não me martirizo, não sou um sujeito heróico!
-E se perde alguém?- escandalizam-se - chora?
-Sou ateu, apolítico e amoral, mas veja, sou humano,
e como um sinto tudo, a priori, posteriori, e claro, agora.
Percebi a razão de pouco me importar, ser apenas humano.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

o homem abstrato, episódio 1 - Rolando Vezzoni.

gabi entra na sala...

gabi diz:
oi, tudo bem? quer tc?

bochecha diz:
claro, pq nm

gabi diz:
quem eh vc??

bochecha diz:
eu sou eu, quem mais haveria de ser?

gabi diz:
afff...

bochecha diz:
eu acho que a melhor pergunta a ser feita é.... '' qual é o seu nome ''

gabi diz:
tá bom, mais qual eh a diferença, eh a mesma coisa!

bochecha diz:
nao, veja bem... eu sou mais que o meu nome, imagine quantos carlos existem, ''quem é você'', tem significados muito abrangentes, muito subjetivos!

gabi diz:
entao vc eh carlos?

gabi diz:
*quer dizer, vc se chama carlos?

bochecha diz:
na realidade, eu me chamo carlos da silva, como muitos outros, eu poderia me chamar jorge que nao mudaria quem eu sou.... eu posso ter chamado jorge em outras vidas, ou terem me adotado e mudado meu nome de jorge, para carlos, nao se pode ter certeza de nada.

bochecha diz:
falando relativamente, se é que me entende...

gabi diz:
ta bom.

gabi diz:
tchau

gabi sai da sala...

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

As merdas da vida. - Ivy Zanchetta

O que você faria se soubesse que alguém, em algum lugar do mundo, quer te matar? Você pode não se importar, o mundo é pequeno o suficiente para você se esconder, mas grande o suficiente para essa pessoa não te achar. Você pode pensar que essa pessoa provavelmente está longe o suficiente de você para que a preguiça de procurá-lo seja maior que a vontade de matá-lo; ou você pode pensar que do mesmo modo que ela pode estar na China, ela pode estar do seu lado, o que te transformaria em um louco psicótico desesperado que sairia matando a todos que te dessem um olhar atravessado na rua ou na cafeteria da esquina.
A questão é: o que te incomoda mais? O fato de alguém querer te matar, ou tudo aquilo que você perderia se alguém te matasse? Poucas vezes as pessoas param pra pensar em tudo aquilo que elas perderiam se morressem, seguem sua vidinha sem graça e cheia de esperança de um dia se tornarem pessoas significativas na sociedade. A verdade é que elas nunca vão passar de vermes se proliferando no cantinho mais escuro e fétido de uma cidade. Pessimista? Insensível? Talvez, mas a vida é assim.
Para você que ainda acredita que um dia a sua vida vai sair desse estado praticamente eterno de estagnação, ignore esse último parágrafo e continue a sua linda e pomposa vida sabendo que eu estou rindo, com as mais sinceras gargalhadas, de você. Talvez eu tenha me esquecido de avisar que caso você seja religioso, sensível, ignorante ou intelectualmente insignificante você deveria ir ler a revista de fofocas mais próxima, o que sem dúvida alguma, te trará mais alegria do que ficar horas sentado lendo cada palavra ou frase em um loop infinito até que você entenda o que eu estou tentando dizer.
Pessimismo e sarcasmo a parte, continuemos. O que você faria, agora, se ao invés de saber que alguém quer te matar, você tem que matar alguém? Uma pessoa que você não conhece, uma pessoa que não faz diferença na sua vida. Como você o faria? Rápido e sem torturas para que ela não sofresse, ou se fosse alguém que você odeia; levaria seu tempo, fazendo cada centímetro da faca (ferramenta escolhida por você para causar mais dor ao individuo) penetrar nas entranhas da pessoa até que cada fibra, cada célula, cada tecido se separe dentro do seu abdômen e o sangue escorresse lentamente pelo cabo da faca e no momento que alcançasse sua mão a pessoa já estivesse tão morta e tão inconsciente ao ponto de você poder largar a faca para não sujar suas mãos com a certeza de que a pessoa cairia morta no mesmo instante?
Claro que estamos falando de uma faca bem grande. E claro que isso te tornaria tão psicótico e assustador quanto o cara que sairia matando qualquer um que o olhasse atravessado, a única diferença entre você e o primeiro tipo de psicótico é que você estaria matando por prazer, e o tipo número um estaria matando por que ele simplesmente não tem as bolas necessárias para aceitar os fatos da vida. Mas para você que está lendo e escolheu o segundo tipo de morte, a mais sangrenta e dolorida, não se sinta mal. Eu também escolheria o jeito mais doloroso... Eu já teria que matar alguém, então por que não fazer bem feito, não é mesmo?
Enfim... Aquilo que importa de verdade é que você (independente de ser um psicótico ou não) ainda estaria matando alguém, o que significa que alguém estaria perdendo a vida, o direito de trabalhar, o direito de ver os filhos, a esposa, e continuar a vivendo a triste vidinha dele... O que significa também, que de certa forma, você estaria fazendo um favor à humanidade.
Esse tipo de pergunta é aquele que eu tenho me feito durante os últimos quatro anos da minha vida. Estou constantemente rodeada de pessoas que não merecem nem metade do oxigênio que respiram, e até uma planta é mais inteligente que todas elas juntas e me fariam muito mais feliz do que elas fazem. Ou melhor, menos triste, pois não consigo me lembrar um momento se quer em minha vida o qual qualquer um deles me trouxe uma gotinha ou no mínimo um vaporzinho de alegria, ou qualquer outro sentimento que se pareça com satisfação e aceitação.
Mas o problema é... Eu não posso matá-las. Pessoas têm pais, tios, irmãos, avós, primas, avôs, cunhados, namorados, sogras, tias avós, primos de primeiro grau, de segundo grau e assim por diante. E a verdade é que eu não tenho paciência pra lidar com todos eles. Esse é o principal motivo pelo qual eu me torturo e tolero as pessoas insignificantes, por que eu aposto o meu fígado, parte do corpo pela qual tenho particular afeição e zelo, que os parentes são tão ignorantes e repugnantes quanto suas crias.
Mas chega de falar de morte. Vamos pensar na vida. A vida na verdade é uma merda. A sociedade é uma merda, o governo é uma merda, as pessoas são uma merda, o café aguado e mal feito que eu tomo pela manhã é uma merda. E a porra da lei de Murphy?! Ta aí um cara que eu odeio sem mesmo ter conhecido. Malditas são as vezes que o meu pão sempre cai com a parte que tem manteiga virada para o chão.
Não vai fazer muita diferença ficar falando da vida ou da morte, quando na verdade ambas são uma merda generalizada. A única coisa que elas tem em comum é o ser humano. O homem é uma coisa um tanto quanto fascinante por diversos motivos, motivos os quais me fazem querer viver e me dão vontade de conhecer mais, por mais estúpido que seja o meu objeto de estudo, o ser humano. Eu não tenho curiosidade em saber como o homem vive, sinceramente pouco me importa, o que me intriga é por que o homem vive, afinal todos nós temos uma razão de viver que não é explicada pela grande casinha de bonecas chamada Igreja Católica ( ou até mesmo aquela que seus pais te deram pra você brincar de adulto quando era pequeno.. Você adoraria que aquilo fosse verdade nao é mesmo?). O homem só viverá enquanto pensar e tornar idéias mais complexas, no momento que parar de refletir ele não encontrará mais motivos para viver. E todos nós temos coisas para pensar.
Se você está achando tudo muito pessimista até agora, aí está a sua segunda chance de desistir dessa leitura, por que não vai ficar muito melhor.
Vamos falar de mim um pouco... eu sou uma velha presa em um corpo de uma adolescente de 17 anos, que tem uma perspectiva pessimista do mundo e da vida. Sem paciência, sem vontade de conhecer as pessoas e sem o menor interesse nelas. Muita gente não consegue entender por que eu prefiro animais à pessoas, e eu tenho um grande problema em aceitar essa dificuldade. O animal é tão puro, inocente, cheio de bondades e ao mesmo tempo tão manipulador e cheio de vinganças que é capaz de confundir qualquer um e dominá-lo com um simples abano do rabo.
Mas não são só pessoas que me irritam, não. Quem me dera fosse. Tem tantas coisas ingratas nessa vida que me deixam desgostosa de viver... Como por exemplo o Sol na sua cara de manhã, tem coisa mais inoportuna?! Você acorda depois de 6 horinhas vagabundas e interruptas de sono, se arruma e põem uma roupa que você julga ser o suficiente pra causar seja lá impressão que acredita ter que causar no seu meio social,toma aquele cafezinho pobre de pó, e sai de casa. Não dá cinco míseros minutos e a estrela já está iluminando seu rosto, machucando os seus olhos e te dando uma dor de cabeça que você acredita que vai até a sua bunda.
Filhos. Que raça desgraçada, não é mesmo? Cuidam, pagam isso, pagam aquilo, ajudam aqui, ajudam ali, e os filhos nunca estão felizes o suficiente, sempre incompreendidos, sempre injustiçados e sempre inocentes. Não conseguem reconhecer o esforço que fazem pra bancar seus fetiches capitalistas e nem capazes de entrar em uma faculdade pública eles são! Mas que merda, não é?
Já os Pais.. Ah! Esses são perfeitos. Não tem um se quer defeito, onipresente e onipotente, sempre certos e com o caminho certo a te iluminar. Sempre tentam te ajudar e te guiar para o caminho da luz, para o caminho certo, longe das más influencias... Ah! Mas quanta bondade aturar seus filhos!
Que vida de merda. Como se já não bastasse temos que cuidar de nossas vidas temos que cuidar da vida dos outros! Ou melhor.. Ao mesmo tempo que cuidamos de nossas vidas temos que cuidar daquela que nosso amigos pensam que nós temos e daquela que seus pais pensam que você tem. Mas quem é você realmente? Quem você é quando está nu, despido de pressões externas, e trancado, sozinho, em seu banheiro? Que musica prefere dançar sozinho quando está obducto da sociedade?
E por que o banheiro? Oras.. todos nós sabemos que o banheiro guarda todos os segredos mais ocultos de qualquer ser humano, pelo menos foi o que um conhecido me disse. Mas veja bem... Eu odiaria que analisassem meu banheiro. O que lá se encontra é tão complexo e convoluto que só de pensar já me dá arrepios, nos pelos e nos cabelos ( que bem na verdade são longos pelos), iguais àqueles que no banheiro se encontram formando uma névoa sobre o assoalho e poluindo a visão de quem lá pisa.
Ninguém deveria entrar no banheiro de ninguém, e ponto final! Ta ai uma outra coisa ingrata e inoportuna da vida. Os Xeretas! Tem tanta sede de viver a vida dos outros que se esquecem que as vezes o que vem é a água do ralo. Já é difícil beber a água de nossos próprios ralos, imagine o dos outros?! Não entre no banheiro de ninguém se não está disposto a lidar com os entupimentos dos outros.
O problemas de ter um banheiro, é que uma hora ou outra você acaba o analisando. Não agüento mais me analisar, me descaraminholar nos meus pensamentos. Me perco neles, e analiso minhas análises, desanalisando e reformulando. Formulando e decifrando.
Quero deixar de existir no espaço mas continuar pensante no tempo. Quero me projetar no nada e no tudo. Mas eu não posso fazer isso, por que eu tenho um banheiro. E um banheiro cheio de problemas. E tem pessoas que se importam com esse banheiro.
Mas que vida de merda. Nem no meu próprio banheiro eu tenho paz. E o tormento vem de dentro! Que inoportuno...
Mas se a vida fosse fácil ninguém nascia chorando e apanhando. Se a vida fosse fácil se chamaria vadia, e não vida. É... a vida é mesmo uma merda, e ninguém vai sair vivo dela.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Cade o piano tosco?- Roberto Torrance.

Sonhei que via pessoas andando em ritmo acelerado, era tudo preto e branco como num filme do Chaplin e tocava um ragtime que parecia vir de um piano tosco.
Tentei gritar, mas tudo que consegui foi uma tela escrito "AAAH!".
Fui em direção a uma tela gigante e cá estava vida cotidiana.
Ainda a cidade é cinza, as pessoas correm e ninguém escuta os gritos, mas pior, pois a vida não tem trilha sonora.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Léxica Disléxica-Bruno Santana

Para a métrica: Paramétrica
Aristotélica: Dialética
Hermética: Profética
Léxica disléxica

Cadavérica
Homérica
Tétrica
Provérbica

Novela estética
Análise sintética
Uma Versão fétida

Aristotélica estética Homérica
Métrica dialética
Poética da Léxica Disléxica

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

o homem de 200 mil neurônios- Rolando Vezzoni

Sua retina fatigada cansou de ler, ele lia muito, trazia algum conforto, uma capacidade e um diferencial, alimentava seu ego e lhe dava a capacidade de entender as coisas com mais clareza, mas ainda assim, cansava muito e pesava.
Estampou sua testa na mesa e respirou fundo... "o que estou fazendo?" pensou confuso "o que eu estou procurando?", logo cerrou os olhos, respirou fundo e tossiu "merda!", dormiu.
Ao acordar sentiu-se estranho, a dor nas costas havia passado um tanto "estou doente, está tudo dobrado, dobrado não, multiplicado por cem!".
Percorreu o caderno, não entendia o que estava escrito, e porque estava tudo tão imenso e implacável.
Esqueceu. "estou com fome", e saiu voando para uma garrafa que emanava açúcar, pousou e sugou um tanto.
Esqueceu. "estou preso" saiu voando para algum lugar e pousou no cachorro que estava dormindo no chão, este, ao sentir algo na orelha acordou e tentou engoli-lo, mas ele foi mais rápido, tinha sentido que algo ia acontecer e foi embora.
Esqueceu. Voou até o caderno e pousou "aqui está bom!", e ficou.
Esteve lá, sentindo a luz do sol que entrava pela janela lhe esquentando, e ficou, e esqueceu, e ficou, e esqueceu, e ficou...
"um terremoto!", tentou voar mais apenas conseguiu descolar a testa da mesa e pegar o celular instintivamente para atende-lo "alô!?...ah, ok, beijo", suas costas estavam doendo, se inclinou para traz e as sentiu estalar, olhou aquela imagem de tudo para se situar, e lembrou.
"Uns veem loucura, eu vejo uma ideia." pegou seu lápis, "que merda!", tossiu uma tosse asmática e seca, e lembrou da semana toda, lembrou que dormir sentado dá dor nas costas "eu só queria esquecer, não saber, e me ocupar sem antes me preocupar... como uma mosca."
Escreveu no seu caderno, e aquele momento transformou-se em signos e desenhos, algo com um significado atrelado para aquele que estivesse disposto.
As palavras não lhe representavam nada, eram inertes, eram pobres e doloridas.
Escreveu com desdém, não acreditava mais naquilo, que tanto importa registrar algo?


"As moscas tem um cérebro de 200 mil neurónios e células gliais (as células da nevróglia, tecido de sustentação, nutrição e suporte do sistema nervoso) contra os 100 milhões do cérebro humano.
Mesmo assim, é capaz de interagir e de realizar comportamentos complexos, como seja o reconhecimento da comida e de adaptação a mudanças climáticas. O seu genoma está completamente sequenciado."
Laboratório do Desenvolvimento, Evolução e Plasticidade do Sistema Nervoso (CNRS, Gif-sur-Yvette, França)

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

(sem título)- Rolando Vezzoni

Homem projeta-se Príapo,
para seus amores.
Mulher projeta-se Afrodite,
para seus amores.
No fundo inconsciente,
pouco importa Atena,
ou qualquer divindade inteligente.
Haverá no limbo alguma alternativa?

porque Sartre, porque?- Rolando Vezzoni

não escrevo mais a tempos...
não dou mais atenção as letras que tanto amo?
meus poemas, meus rebentos...

o que há no conforto que me acaba?
o que há no conforto que me reprime?
nada além de um poema pode exprimir essa dor por nada.
a dor não vale nada?

Sartre, se não houve angústia, porque a náusea?

sábado, 9 de julho de 2011

Aquilo que não está debaixo dela- Giovanna Palermo

eu poderia me dizer esquizofrênica...
mas sei de onde vem as vozes que batem na minha cabeça
são os gritos de um passado não distante.

se arrependimento matasse...
quem disse que não mata?
se esqueceu de dizer que é pior,
agoniza.

mas de vez em quando eu acho a saída,
o escape,
a janela.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

topada- Rolando Vezzoni

hoje de manhã acordei,
ah, que vida porca!
bati meu dedo minguinho no canto da porta!

A porta se chama mundo,
eu saí de casa mancando.
e meu dedinho ficou imundo.

domingo, 26 de junho de 2011

Sem ressentimentos (ou “o que pensei em dizer, e não disse, nem dissertei”)- Rolando Vezzoni

Conversavam, ele novo, o outro, velho.
-Mas, vive assim mesmo? Faz com que sua vida tome realmente esse rumo?- disse o outro.
-Putz meu, eu não vejo nada que me desanime, ainda que, bom, sabe, todos morreremos mesmo, viver feliz acaba valendo mais a pena do que planejar fazer algo que me torne possivelmente feliz num futuro que pode não chegar, sabe?
-Você diz isso porque ainda não chegou o futuro que há de chegar, a água ainda não bateu no pescoço, a hora que começar a chegar a sua hora, duvido que continue pensando dessa forma, é fácil ter descaso com a vida quando ainda não chegou perto do fim dela, digo isso pois com minha idade tenho uma certa experiência que você não tem.
-Bom, nesse caso não tenho como te responder, não tem como argumentar mesmo, porque na real, a gente só está especulando, e especular é bem fácil, sabe?
-O que estou querendo dizer é que agente acaba se arrependendo de muitas coisas que fazemos, escolhas pequenas ou grandes, as vezes escolher um caminho alternativo é mais um fuga do que uma prova de coragem, ou se destruir é mais um medo de seguir as coisas do que uma vontade de curtir as coisas, entende?
-Hum, acho que entendi.- disse ele de forma que encerrasse o assunto, esse tipo de assunto costuma chateá-lo um pouco, e por mais que tenha como falar algo, não quer desconsertar o cara, pois esse pessoal mais velho costuma ser sensível, e quando se percebem equivocados em uma de suas certezas ficam sem graça, como que se tivessem sido expostos ou agredidos, como uma criança pequena também ficaria, mas com menos descaso.
Andou para sua casa pensando demais naquilo que o senhor havia lhe dito, entendia algo além do que foi dito, ficou dissertando aquela ideia o caminho todo enquanto andava.
Entrou no quarto e pegou uma folha e um lápis e tentou escrever aquilo tudo, mas sabia que não ia dissertar, era muita coisa que queria ali, e odiava dissertar no papel, até curtia falar e tudo, então resolveu que faria um poema, não para ficar bom, mas para resumir aquele monte de pensamentos que não queria esquecer.
O poema que escreveu não ficou muito bom de fato, mas talvez tenha chegado a algum lugar, aqui seguem os versos dele:

“o que pensei em dizer, e não disse, nem dissertei”

Eu sei que posso ser jovem e pretensioso,
que sou ateu e não temo a tal da morte que morre tão distante
e que as consequências dos meu erros estarão me esperando.

Quando estiver mais velho pensando sobre tudo num dia ocioso,
Eu espero que nesse futuro, como agora estou, esteja pensando:

Tomo por certo o que enxergo,
o que já fui, e sei bem que não sou mais,
e nem por isso vejo quem fui como um burro ou um cego.
Aquilo que fiz, quando feito era o mais certo aliás,
pois foi aquilo que decidi antigamente,
e aquilo é o que me fez assim, uma vez que não mais rapaz.
Tento remendar atualmente,
as feridas do meu velho ego
que cometeu erros que não o eram, sem dor,
pois eu vivi aquele, agora passado, sem muito pudor.
Daquele jovem que me fez o que sou hoje, velho
lembro de um fato, do fato de que não havia o certo, e que minha vida ainda era um mistério.

Gênero e Gênio de Geni- Bruno Santana

Mais um maldito
Mais uma mal falada
Outra centena de línguas soltas
Outra leva de diarreia em enxurrada

Geni é Homem
Geni é Mulher
Geni sem gênero
Gêni e o Gênio

Taca bosta na Geni!
Taca merda na Geni!
Ela lava o cú e Sorri ...

Geni é o seu inferno
Geni sofre e sorri
Cospe! Geni é boa de cuspir!

quinta-feira, 23 de junho de 2011

formidável papo novo!- Rolando Vezzoni

Não tenho o hábito de escrever em primeira pessoa, talvez eu não queira me expor ou algo assim, mas agora isso é irrelevante, ainda porque estou feliz e levemente alcoolizado.
Acabei de voltar de um role formidável, não consigo descrever de outra forma, não fiz sexo, nem chapei, se é o que esperam, simplesmente conversei com dois amigos bem próximos sobre tudo, sobre os filhos que podem vir, se queremos ou não, se seriamos bons pais, se contaríamos que papai noel não existe, como as coisas funcionam, como os filósofos não chegam a lugar nenhum e como isso é frustrante e maravilhoso, como as amizades podem falir ou como podem durar, as coisas simples e as coisas complexas, falamos merda, passamos trotes, marcamos roles que não fomos, e chegamos àquele lugar algum que não esperávamos chegar mesmo, que sabíamos que não íamos chegar, que não queríamos chegar.
Depois de umas cervejinhas e um bom papo chego em casa, com uma gana de fazer algo que não sei por certo, comi um bom sanduíche nada a ver e brinquei com o cachorro.
Nada disso tudo que eu falei é relevante, agora me sinto uma pessoa boa, até peguei o osso de meu cachorro no quintal e trouxe para o quarto para ele ter o que fazer enquanto escrevo, me sinto assim por não ter a carga de ter de ser assim.
Daqui a alguns anos sei que vou lembrar de hoje, uma saída pouco pretensiosa, mas formidável.
Não quero chegar a lugar algum com essa crônica, pois se eu levar a algum lugar só a vou limitar, e também, não estou com vontade, afinal, ainda que esteja feliz, estou no balanço, pendendo prum lado e pro outro, após escutar um pink floyd na rádio com meus amigos floydmaníacos seguido de pistols, meu, eu não quero mais nada, também se quisesse tanto assim, não teria sido uma noite tão formidável, e foi.

* homenagem aos bons amigos, que são bons amigos por agora, o que é muito mais do que qualquer um poderia me dar.

terça-feira, 14 de junho de 2011

Os Lambe Bolas- Bruno Santana

Não entendemos de poesia.
Não conhecemos melodia.
Não compreendemos sua harmonia.
E o ponto é que não suportamos sua antipatia.

Enquanto estão fadados a lamber bolas de acadêmicos
Levavamos seus filhos ao êxtase
Enquanto entopem o nariz do pó dos livros
As overdoses nos faz heróis de seus filhos

Enfie sua arrogância no rabo
Antes meus amplificadores que suas dores
Antes minha loucura que seus horrores

Até concordo que sabe mais
entende mais, mas me digam
o que isso lhe tráz?

O ralo- Rolando Vezzoni

Seu banheiro estava todo entupido, o chuveiro não mantinha o nível regular da água e vazava inundando o banheiro inteiro todo dia, sua privada demorava a descer a água, e não importava o que fizesse, continuava assim.
Embora as inundações o incomodassem bastante, não queria que ninguém tomasse conhecimento delas, odiava que entrassem no seu banheiro, afinal, era o lugar da sua privacidade, o único lugar que, ainda que não o estivesse usando de fato, podia trancar-se e ficar sozinho, sem interrupções externas para desorganizar sua cabeça.
Ele secava tudo com as toalhas e passava frio até se secar naturalmente no inverno, as toalhas continuavam molhadas no dia seguinte, ele continuava secando de todos os jeitos possíveis e se livrava do lixo das maneiras mais diversas e escrotas que encontrava.
fazia de tudo para mascarar a realidade porca de onde habitava.
Só ele saber já era o bastante, o mundo não tinha que vir e olhar, tentar mexer e julgar, apontar ou comentar o que quer que estivesse causando o entupimento. De uma forma ou de outra era bem apegado ao segredo da manutenção constante do seu entulho, afinal era seu entulho, ainda que não fosse bonito e lhe desse um contêiner de preocupações era a única coisa exclusivamente sua e particular, era um problema seu.
O banheiro dum indivíduo diz mais sobre ele do que qualquer outro algo.
No caso, o que mais poderia ele colocar sobre si mesmo, estando em meio aos conflitos e erros do adolescer, do que um reflexo escatológico da sua personalidade e desleixo deixado para trás?
O tampo passou, e acabou que descobriram o tal do problema.
Tentaram desentupir, falaram que era por causa do cabelo que ele lavava todo dia, das guimbas de cigarro que jogou na privada, ou algum pedaço de boneco que ele derrubou quando mais novo, etc... Em resumo: estava exposto, tinham ali uma chave para sua psique, uma chave que ele temia com todas as forças, não sabendo exatamente porque, mas simplesmente com medo de descobrir ele o que atrapalhava o funcionamento das coisas, o lixo que bloqueava suas artérias, a montante de porcarias que foram se acumulando ao longo dos anos da sua vida pessoal. Podia ser que não houvesse nada de relevante, mas não importava.
O desentupidor dos invasores não funcionou, o que lhe deu tempo para pensar que merda teria ele de fazer para resolver o problema.
Tentou pelo ralo do box, nada.
Tentou pela privada, nada.
Vasculhou o banheiro de madrugada em uma psicose incompreensível, tomado por curiosidade e medo irracionais. Em meio a essa pulsão, encontrou um terceiro ralo do qual havia se esquecido, um ralo bem grande cujo os parafusos estavam sujos, ou seja, que não havia sido aberto ainda. Abriu-o e olhou-o minunciosamente enquanto pensava no que faria.
Demorou algumas horas cuidando da situação, lavou, passou produtos, viu o que não queria vissem.
Aquilo tudo era uma escola, um laboratório de lembranças sujas, estava vendo algo seu, nojento, que nem ele se permitia ver, mas que agora tinha grande interesse.
No dia seguinte, falou com orgulho que o problema havia sido resolvido, revelou apenas que eram dejetos comuns que se acumularam pela má manutenção do encanamento, ou seja, que não havia nada para se ver ali.
Seu segredo estava seguro, se livrou do conteúdo do ralo sem testemunhas, e podia esperar que se acumulassem novas porcarias por ali, mais das suas queridas porcarias.
Ele sabe o que havia no seu ralo, mas isso é problema dele, e ninguém tem que saber nada sobre isso!

domingo, 12 de junho de 2011

bye, bye supermodel - Bruno Santana

Já dizia o velho grosso:
Não sou cachorro pra roer osso!
Não que eu ligue se você for magra ...
Fico puto é se for chata!

Cansei disso:
Eu de Whooper, Você de Salada.
Pára menina! Isso não dá em nada!
Não vê que ninguém suporta essa sua cara de nada?

Mais Verdade, menos Passarela
Mais Sorriso, menos Vaidade
Mais Carinho, menos Saudade

E menina: Fique Feliz se você é assim!
Você, hoje, é a top:
Ao menos, pra mim.

sábado, 11 de junho de 2011

fingindo de morto- Roberto Torrance

O meu tão apurado ver se desapura por tamanha acidez.
Os fatos tão reais são violentamente abstratos.
Hoje não procuro ver tudo assim tão crú, talvez...
até fantasiar algum sentido nesse mar de ratos.
Por um dia ou outro cegando minha lucidez,
nem lembrando dos homens e seus atos,
sentado estou esperando minha vez.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

o que há de ser hoje?- Rolando Vezzoni

Estou sujo, deveras porco, e tudo que eu quero é tomar um banho, um banho que tem que ser tomado.
O dia passou e me deixou novas cicatrizes psicológicas, essa mania de pensar demais nas horas em que o mundo nos pede pensar menos, cada coisa horrorosa que encontro escondida no sol entorpecente dum dia bonito, onde tudo é tão bom que nos massacra.
Entro em casa e pego um tanto de tudo que se tem para pegar, como o bacalhau de ontem com farofa e arroz, empapando de azeite para calar o estômago.
Como tudo enquanto subo as escadas num passo lento e perdido, paro e volto pois esqueci de soltar o cachorro, que sobe correndo escandalosamente, nosso cheiro é parecido com tem de ser, uma vez que dividimos o mesmo cômodo.
Banho, tenho que tomar banho, estou me sentido salgado, chego no quarto assim e arrumo o que tem de ser arrumado e estudo a física que tenho que estudar.
Ainda continuo porco, alucino moscas me rodeando e tento espantá-las nervosamente, ainda que saiba que não há mosca alguma para se espantar e coço minha cabeça de quem não toma banho a dezoito horas enquanto rio da irrefutável prova do meu cansaço me transformando como só ele pode.
Vou ao banheiro fazer... o que tem que ser feito, para me tornar uma vertente desconhecida da escatologia, o catarro da humanidade.
Ligo o chuveiro com a água fervendo e me levo com o vapor ofuscando as paredes brancas, sei que está de noite mas não há escuridão o suficiente, então coloco meus óculos escuros e apago a luz.
Me deito no chão frio do banheiro, sentindo a coluna desentortar aos poucos, não vendo nada, agora relaxando, esquecendo da sujeira há de ser lavada.
Não vejo nada, pois sei que não há nada que deva realmente ser visto, enrijeço-me
esperando o futuro, e dele o que há de ser, ainda sem sê-lo.

domingo, 5 de junho de 2011

"Constipação" literária- Rolando Vezzoni

Tenho tentado escrever, sabe?
Nesse texto, que é mais uma lamúria,
expresso com pouca criatividade minha fúria.
Espero que essa seca de idéias acabe.
O título já diz tudo,
um monte de palavras em estrofe
que não tem nenhum conteúdo.
mas gostaria de dizer contudo,
que um poeta que não escreve sofre,
por isso coloco a ausência de assunto
nesse texto bastante absurdo.

Puro e Amargo.(apresentação ao blog)- Bruno Santana

Puro e Amargo.
Como a vida é.
Puro e Amargo.
Como as pessoas deveriam ser.
Puro e Amargo.
Como o Amor que toma conta da alma dos loucos.

Puro e Amargo.
Para acordar todos os dias.
Puro e Amargo.
Pra acompanhar o cigarro, pra acompanhar a poesia.
Puro e Amargo.
Puro, Amargo e Escuro.

domingo, 22 de maio de 2011

medo e sonho- Roberto Torrance

Vendo um filme triste,
duma vida ou outra
fictícia, e real outrora.
Há um ou outro vicio que persiste,
esgueirando-se como uma cobra.

Pensa que os outros vivem agora
rindo com seus "paus" em riste,
enquanto os marginais se contentam com a sobra?
sabe como dói escárnio em forma de poluição sonora?

Pergunto-lhe se existe,
dentre todos os medos que já viste,
algum que como forma mais vil de tortura,
do que o de que alguém seu medo descubra?

o medo te mantém vivo e sentindo, de que tanto adianta temer então?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Cerúleo- Rolando Vezzoni

Meu corpo dá-me um trabalho hercúleo,
dói, pesa e atrofia conforme o tempo passa.
Uma pena que sem ele eu nada faça,
dele não independe meu cerúleo...

(para não tacharem-me por pedante,
meu amigos demônios
já me passo adiante:
O cerúleo é onde ficam seus neurônios)*

*ou da cor de um céu azulado, o que não é o caso.

a poça de óleo- Rolando Vezzoni

Em sua vida as grandes peripécias ocorriam quando estava andando sozinho, olhando a calçada nua e suja, desviando das linhas tão compenetradamente que chegava a esquecer-se do seu caminho, caminho que lhe norteava a um objetivo qualquer, e que esse objetivo (qualquer que seja) não o levava a lugar algum.
Andava, e deparou-se com uma poça de óleo, algo como um arco-íris derretido num trecho deprimente de asfalto úmido, e parou para contemplar aquele trecho de cor no meio daquela cidade chumbo.
Seu reflexo saltou aos olhos, era um sujeito com olheiras grandes e fisionomia desanimada, era um "homem metropolitano" e fazia parte daquela cidade, era tão pálido quanto os cães atropelados que os carros desaceleravam para desviar e seguir com suas vidas. Destoava em meio as pessoas felizes, e sabia disso, seu retrato no asfalto retirou-lhe da dormência na qual se escondia.
Esteve tempo demais naquela lixeira de hospital, cheia de fetos mortos e seringas infectadas com variedades de doenças, naquela latrina lotada de prédios e fumaça, explodindo de débeis mentais e cegos, agora tudo aquilo lhe incomodava mais que nunca, não se sabe o quão ruim até conhecer o diferente.
Ficou horas ali, defronte aquela aflição de água e óleo, ele e os outros. Seu pescoço latejava como nunca pela posição incômoda, cansou-se, entrou para a esquerda rumando o meio fio, viu o caminhão chegando, cerrou os olhos e contou: Um... Dois... Três...

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Uma poesia leva mil elefantes.- Rolando Vezzoni

Uma poesia leva mil elefantes,
cinzas, devastadores e elegantes.
tento escrevê-la num tom rouco,
ou, se uso palavras muito belas e galantes,
sempre escondo um pedido de socorro.

Uma poesia leva mil elefantes,
no meu bolso levo esse animais tão fascinantes.
A minha alma jaz nas poesias vacilantes.
A vida vivo em verso, parágrafos eu corro.

Uma poesia leva mil elefantes,
devagar lembra tudo que veio antes.
O bom escárnio pelas coisas importantes.
Que me lembram que depois de cada dia vivo, eu morro.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

o coração bate mais devagar no peito de um porco.- Rolando Vezzoni

No mundo despendendo interesse discreto,
amiudando toda perda de tempo cretina.
Há um coração de homem em mim que sou um porco.
Um porco cardíaco e preguiçoso olhando o teto,
sabendo não ser tão fraco,
mas não aguentando a luz me tocando a retina.
As vezes evitando outros por perto,
mas só quando estou meio morto
ou de saco cheio da vida e da rotina.
Sabe? O coração bate mais devagar no peito de um porco.

marginal?- Francisco Knulp

Ele tendo visto o que se havia para ver,
viu um mundo todo torto,
por querer tanto chorar, chegou a rir.
Não deu para entender,
a razão desse mundo ser todo escroto,
e dalí apenas queria, acima de tudo, sair.

Pendeu para a esquerda da ponte,
antes de ele cair.
Com suas costas roçando na areia e seu rosto no mar,
naquela margem de tudo conheceu um monte,
monte de vidas outras que tentaram fugir,
entendeu que nada fácil será com sí mesmo lidar.

Ele é afinal,
um marginal.

terça-feira, 26 de abril de 2011

O homem de cueca.- Rolando Vezzoni.

O sujeito descia uma rua na qual haviam muitos carros parados buzinando.
Fazia frio, ventava de forma que a pele ficava áspera como a de um frango depenado e seu o cabelo que usualmente lhe cobre a face dançava com as rajadas geladas de quando em quando lhe levando defronte a realidade, tudo no que pensava era no casaco que tinha deixado no acento de sua cadeira antes de sair.
Estar exposto ao vento lhe lembrou de um sonho que tivera outro dia.
No sonho tudo era bem real, exceto pelo fato de ele não saber onde estava, e nem porque estava de camiseta e sem calças.
Tentou ir até o ônibus(que por alguma razão era seu objetivo)da forma mais discreta possível.
subiu por um barranco que dava para a janela do veiculo e pulou por ela para entrar sem ser visto, lá dentro havia um conhecido seu, que olhou para ele e disse:
-Você está SÓ de cueca?
-Eu esqueci de colocar a calça hoje.
-Você SÓ esqueceu de colocar a calça?!
-Não faça muito caso disso, eu quero ficar na miúda, acho que ninguém vai notar.
-Ninguém vai notar que você está SÓ de cueca?
-Então me arruma uma calça.
-Eu tenho uma calça que tem SÓ um furo na bunda.
-Tudo bem.
Vestiu a peça furada, e se sentiu um cara normal.
Parou de pensar nisso quando chegou ao bar onde havia combinado de se encontrar com amigos. Foi andando devagar para a mesa, sentou e acenou de forma discreta.
Uma garota olhou para ele com cara de incomodada.
-Algum problema?
-Você está SÓ de camiseta?
O vento era o menor de seus problemas.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

o que somos e seremos- Francisco Knulp

Não, nós simplesmente não temos mais saída.
Seremos adultos de merda e faremos terapia.
Reclamaremos por tudo, e mudaremos nossos filhos todo dia,
limparemos com álcool cada ferida.
Passamos o princípio da nossa história
sentados em cadeiras de plástico.
Teremos dor nas costas e no nervo ciático.
Fingiremos que trabalho e salário nos traz glória.
Quando Reich nos avisou que teríamos prisão de ventre,
não ouvimos, pois ele não estava na lista da Uni-puta-que-o-pariu.
Pessoas que não gostamos baterão em nossas portas e diremos:
-Entre!
-O Brasil é economia "xis, ipsulon zê", Você não viu!?
-Meu, deu no jornal nacional!
Já que agora jovens engolimos seco nossas divagações,
Amamos os débeis mentais com seus carrões.
Aturamos nossos professores socialistas e/ou petistas.
Aturamos nossos pais e mães neo-liberalistas e/ou PSDBistas.
Aturamos toda e qualquer "bucetada" política.
Nós não temos saida.
O "ensino mérdio", o "ensino fodamental" e a "faculbosta".
Nossa vida nada é além de rodar bolsa na avenida.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Meu veneno- Rolando Vezzoni

De inicio foram-se os dedos,
e junto deles a tensão.
Tampouco mais corrido o tempo,
os meus pés sumiram, os dois.
Já agora não importam-se os beijos,
não há mais amor, só tesão.
Nada mais agora eu tento,
passados uns minutos, tudo fica para depois.
A visão se cega para os medos,
os defeitos não mais os são.
Meu corpo leve como uma rajada de vento,
vendo agora todo o um, como um dois.
Nauseabundo com os membros amortecidos,
fecho meus olhos mergulhando na escuridão.
Deixo então a ultima dose ali, pois,
Em meu êxtase, já estou morto

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Livre para amar e ter pena.- Rolando Vezzoni.

Amo a ideia da liberdade,
desde a do muito porco libertino, 
até a do muito morto libertário.
Desse cálice bebo á vontade.

Amo as mais toscas, impossíveis,
estranhas e extremas utopias.
No caos nado a braçadas,
Rindo folgado no chão, dos nossos reis.

Tenho pena, muita pena do homem,
que não libera de suas quinquilharias,
preso a ícones e mesquinharias,
gastando seu tempo com política inútil, fantasiando alguma ordem.

Mas, acima de tudo, sinto pena daqueles que arrebentam a corrente e não correm.
Ah! Amo não conseguir voar, mas ter precipícios para tentar fazê-lo.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Mito do mar - Rolando Vezzoni

o homem nada mais é que o homem, e a sociedade um conjunto deles, nada além disso.


   Eram três pessoas, que partiram do mesmo ponto, o que obviamente infere no homem quando visto maior, mas quando apenas em si, pouco importa qual ponto se partiu, ainda porque, enquanto ponto não se é homem.
   Tão logo quanto o aprender a comer e a andar estão terminados, a caminhada muda de face, e torna-se pouco mais complexa, partindo do pontual para um bidimensional não apenas geométrico ou literário, mas existencial, partindo ainda da não preocupação digna apenas da mais breve juventude ou da mais absoluta sobriedade (embora por razões diferentes, sendo a sobriedade, ou, o ceticismo uma sequela do entendimento da profundidade e de mais.), aprendendo as primeiras frustrações vazias de sentido que perseguem todo o indivíduo até o fim dos joelhos ralados.
   Esse primeiro olhar sobre a realidade merece um segundo parágrafo, afinal, junto com a largura e altura das primeiras ideias e conflitos, percebe-se que um dos indivíduos estranhamente se difere dos outros dois, ainda que de forma sutil, mascarada pelo riso histérico da juventude.
   O caminho vai se complicando com as nuances do conflito, os momentos levam nomes, e as razões levam coices até serem desmontadas, dolorida e complicada, as vezes simples e descolorida, mas ainda sim sempre ambígua, chega a terceira dimensão.
   A dimensão do profundo, da particularidade alcançou, em momentos diferentes um individuo e o outro, o terceiro agora ainda se embaraça com a linha da segunda dimensão, ainda que mascarada de ignorância.
   Nesse terceiro andar, que parece ser o ultimo, se batalha por uma algo que não se sabe, nada mais parece tão tangível, os caminhos definitivamente se separam em deltas, um logo antes, outro agora, e estão todos sozinhos.
   Escaparam do conhecido, o ovo donde vieram não tem nada a oferecer, e percebe-se que os três indivíduos embora partidos do mesmo ponto são , de fato, diferentes.
   Enquanto alguns se matam, outros ''se viram'', existe um mundo social e não existe apenas um delta, tampouco apenas o certo e o errado, existem milhares de afluentes que formam um rio, que permanentemente deságua no mar da não existência, levando as águas passadas junto com seus sedimentos, abrindo espaço para as novas águas que virão a se formar.
   Haverá sempre a limitação, e o fluxo, liberdade não é onipotência, é entendimento despojado de preconceitos tribais e projeções inconscientes, ainda que inevitável.
  Na dor desse trajeto alguns procurarão ilusões, na alegria alguns procurarão a estupidez, em sua liberdade procurarão a plenitude, mas acima de tudo, inexorável espera, e nem isso deve importar, afinal, os três indivíduos do ponto inicial, agora, já se perderam no mar profundo.

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

Que tal o vazio fazer sentido?- Rolando V., Francisco K., e Roberto T.

Como que numa realidade lotada de homo sapiens sapiens,
cada um de um lado, nem do certo nem do errado de fato,
estando todos biologicamente opostos aos sapos,
estamos também diametralmente opostos em si e no modo de perceber algum fato.

Sondando com o tato, vendo com os olhos
não vendo simplesmente o óbvio,
porque o óbvio simplesmente não existe,
nem na palma da mão, nem na pupila algo além de opinião e fetiche.

O ideal existe, na ideia do idealizador X,
que acha algo assim ruim, enquanto um outro faz isso feliz,
perverso só é aquele que faz o que acha certo, achando o que o outro fez
mais correto, mais verdade ou menos caminho para o desconcerto do público da vez.

Verdade, nada além da verdade... nada...
que tal mais uma tentativa de ''verita''?
A verdade do tio patinhas, de Chê Guevara e da Pedrita,
não é a mesma do Platão, do ratinho e do eremita.

quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Quem, eu me preocupar?- Rolando Vezzoni

Vivia abraçando a morte, brincava com ela no playground sempre que possível, andava apaixonado por ela, mesmo não sendo atrativa para a maioria dos homens. Para alcançá-la pensou em ''chegar junto'' e ver o que acontecia, mas ficou com medo logo quando estava quase lá, tentou também bem devagar, apenas dando indiretas, fazendo todo tipo de coisa que o levasse bem perto dela, ficou um bom tempo assim.
Sobrevivendo e pensando no que aconteceria uma vez que concretizado seu desejo fosse.
Nada, não tinha importância e não fazia diferença, apenas deixaria de existir, e ainda sim, é inevitável chegar até ela. Para que reproduzir, já se tem muita gente no mundo? Mesmo que não houvesse, para que propagar uma espécie predatória como a nossa? Ainda assim não importa definitivamente nenhuma espécie para o universo, que é irrelevante para si por si só, uma vez não existindo consciência, és indiferente para o nada o algo, assim sendo, ou não sendo, as obrigações quaisquer que sejam as de um indivíduo não são obrigatórias para o indivíduo em si, e sim, sacrifícios feitos em troca de algo que se tem interesse, ou o não fazer as obrigações pode, ou não acarretar punições, mas ainda assim... não importa, foda-se.
Agora, abraçava com mais força ainda a morte, se tiver que vir, venha, mas ainda assim, pretende aproveitar com todo o deleite possível a tão desimportante existência, afinal, até Sêneca dizia que é preciso entender a morte para aproveitar a vida.

sábado, 29 de janeiro de 2011

antes de proseguir. - Roberto Torrance.

Prendeu a respiração por alguns momentos, muito ar muito tempo, ainda não caiu em sí, está caindo de novo.
Abriu os olhos e estava dentro de uma gaveta em uma sala grande, sozinho e com sono.
Fechou os olhos e acordou.
Morreu com 120 anos de idade, ainda feto, e pulou fora de sí, agora lembrou que tinha de ir em frente.
Soltou sua respiração e voltou ao trabalho, quem sabe algum dia ele consegue prender para sempre.

Cagada em duas estrofes- Rolando Vezzoni

(Em homenagem para todos aqueles que ganham a vida fazendo merda!)


Com dor de barriga e azia
ele senta na privada fria,
e tem uma "estercorragia".

Quando termina se livra da sujeira porca,
e um fósforo mascara o cheiro de coisa morta,
depois lava a mão, sai e fecha a porta.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Jeanne - Rolando Vezzoni

O artista levava uma mala,
nela carregava o amor.
A história lembra dele te-lo dito.
Mas,em algo mais acredito,
que escondido nos fez um favor:
Guardou no fundo dela,
para ele e Jeanne toda a dor.
a prova disso se via
em seu rosto no fim de tudo
nada mais tinha
além do que jazia,
seu Modigliani mudo.
Seca lágrima pendia
pintada duma tinta
do tom mais negro do mundo.