quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A Pasta Existencial - Bruno Santana

“Não entendo de filosofia."
“Como não entende? E todos aqueles livros da estante? Você lê ou apenas passa os olhos?”
“Não. Li todos. Mas não entendo de filosofia como deveria; não sei definir coisas com propriedade.”
“Poucos sabem e isso não é importante para você. Você cozinha: isso é importante.  Aliás, o que você colocou nesse molho!? Está divino!”
“Os tomates estavam frescos ... eu gostaria de entender melhor o mundo. Saber diferenciar o que é humano do que é natural ... quer vinho?”
“Por favor ... Quase tudo é humano e , também, natural. Este delicioso vinho é humano e natural. As uvas são naturais: crescem por maravilhas da botânica, mas a escolha das sementes, do lugar, do adubo; a forma de extrair o suco, fermentar, envelhecer ... isso tudo é humano.”
“Pensando assim, tudo é humano e natural.”
“Tudo é humano, mas nem tudo é natural.”
“Não entendi ...  me ajuda a lavar a louça?”
“Depois do trabalho. Já tá dando minha hora.”
“Tudo bem. Acabaram seus cigarros?”
“Me deixa ver ....”
“Não, ainda tenho dois. Pega o maço.”
“Valeu, quer o último?”
“Nem, pega pra você; não posso chegar com cheiro Marlboro no trabalho.”
“O.K.”
“Enfim, tudo é humano, pois você é humano. Seu mundo existe a partir de sua humanidade e ela é quem coloca o humano nas coisas.”
“Não sei se concordo.”
“Nem deveria, já disse que não penso direito de barriga cheia. Ainda mais com um macarrão desses. Um dia você me faz explodir de tanto comer.”
“É sempre a intenção.”
“Bom, estou de saída. Abre o portão, por favor.”
“Tá aberto. Pega a roupa na Dona Luzia quando voltar?”
“Busco em troca de mais macarrão.”
“Combinado.”
“Até então.”

Um comentário:

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