quarta-feira, 16 de março de 2011

Mito do mar - Rolando Vezzoni

o homem nada mais é que o homem, e a sociedade um conjunto deles, nada além disso.


   Eram três pessoas, que partiram do mesmo ponto, o que obviamente infere no homem quando visto maior, mas quando apenas em si, pouco importa qual ponto se partiu, ainda porque, enquanto ponto não se é homem.
   Tão logo quanto o aprender a comer e a andar estão terminados, a caminhada muda de face, e torna-se pouco mais complexa, partindo do pontual para um bidimensional não apenas geométrico ou literário, mas existencial, partindo ainda da não preocupação digna apenas da mais breve juventude ou da mais absoluta sobriedade (embora por razões diferentes, sendo a sobriedade, ou, o ceticismo uma sequela do entendimento da profundidade e de mais.), aprendendo as primeiras frustrações vazias de sentido que perseguem todo o indivíduo até o fim dos joelhos ralados.
   Esse primeiro olhar sobre a realidade merece um segundo parágrafo, afinal, junto com a largura e altura das primeiras ideias e conflitos, percebe-se que um dos indivíduos estranhamente se difere dos outros dois, ainda que de forma sutil, mascarada pelo riso histérico da juventude.
   O caminho vai se complicando com as nuances do conflito, os momentos levam nomes, e as razões levam coices até serem desmontadas, dolorida e complicada, as vezes simples e descolorida, mas ainda sim sempre ambígua, chega a terceira dimensão.
   A dimensão do profundo, da particularidade alcançou, em momentos diferentes um individuo e o outro, o terceiro agora ainda se embaraça com a linha da segunda dimensão, ainda que mascarada de ignorância.
   Nesse terceiro andar, que parece ser o ultimo, se batalha por uma algo que não se sabe, nada mais parece tão tangível, os caminhos definitivamente se separam em deltas, um logo antes, outro agora, e estão todos sozinhos.
   Escaparam do conhecido, o ovo donde vieram não tem nada a oferecer, e percebe-se que os três indivíduos embora partidos do mesmo ponto são , de fato, diferentes.
   Enquanto alguns se matam, outros ''se viram'', existe um mundo social e não existe apenas um delta, tampouco apenas o certo e o errado, existem milhares de afluentes que formam um rio, que permanentemente deságua no mar da não existência, levando as águas passadas junto com seus sedimentos, abrindo espaço para as novas águas que virão a se formar.
   Haverá sempre a limitação, e o fluxo, liberdade não é onipotência, é entendimento despojado de preconceitos tribais e projeções inconscientes, ainda que inevitável.
  Na dor desse trajeto alguns procurarão ilusões, na alegria alguns procurarão a estupidez, em sua liberdade procurarão a plenitude, mas acima de tudo, inexorável espera, e nem isso deve importar, afinal, os três indivíduos do ponto inicial, agora, já se perderam no mar profundo.