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quarta-feira, 3 de outubro de 2012
Virgem de Asfalto - Bruno Santana
A pele do dedo descascando
a mulher de lá foi quem tirou
no delírio de rodoviária
na noite que escorria
pingando
latejando
sangrando
na rua de asfalto.
Na sujeira do banheiro público
da prefeitura do correio do bar
da correria
de uma pasta cheia de folhas
sujas
rasgadas
codificadas
na rua de asfalto.
Em um campo de jogos orientais
de velhos misteriosos
que encaram no caminho
da casa pra escola
bebendo
fumando
envelhecendo
na rua de asfalto.
Em delírio, encontrei a mulher de lá
de olhos misteriosos e oblíquos
piores que uma citação à Capitu:
olhos de víbora e fêmea facínora
violenta
ciumenta
inviolável
na rua de asfalto.
Ó! Céus do oriente!
perfumes sabores e temperos
e têmporas e tempos tão distantes,
trouxeste a mulher em teu seio.
Ó! Mãe de toda a terra!
Mãe de toda a natureza!
força embrionária.
Pais paz países
e de todo meu braço
esfolado
descascado
latejante
na rua de asfalto.
Ó! Virgem de sangue!
Ó! Virgem de asfalto!
dê a força
traga o peso
empurre
rache
rache
rache
a rua de asfalto.
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