-Sonhei que era aleijado...
Podia sentir até a espinha rachada...
Dorme?
Ela ainda dormia,
foi de ladinho pra dar bom dia.
Tremeu e bocejou:
“que horas são?”.
-tanto faz, o mundo já acabou...
-Faz tempo? Puxa, eu até já sabia...
o que fazer agora que o mundo acabou?
Brinca. depois o ventilador.
Dedos correm pelos cabelos, então um fio comprido cai devagar no lençol amassado.
-Talvez seja erro, babaquice:
como acabar um mundo com o ventilador ligado?
-Sobrou latinha do lado da cama, umas duas...
Sorriu abobado, ela pesca a cerveja quente.
-Quando acabar o mundo, quero cerveja gelada.
-Dorme cheiroso, acorda suado e reclamando.
-sempre assim?
-sempre.
-Talvez seja erro, babaquice:
como acabar um mundo levando cerveja gelada?
-Você não volta... Tenho pena.
-é tudo cena minha... Juro que to quase aqui...
-promete?
-Não, quando deus morreu levou o super-homem junto.
Derruba um pouco da latinha, molhando o lençol.
-li que pra aprender a voar, é só errar o chão... Coisa de Douglas Adams.
-Depois de voar o mundo pode acabar... Vai ficar tudo bem,
Sabe? Voou.
Riu baixo, linda e confusa. Daí replica:
-e o que fazer até lá?
-ficar na cama, tomando cerveja quente... Pelados, de preferência... Quando o mundo ta acabando, ele fica muito quente... Calor maldito.
-gosto de você suado e reclamando... Mas tenho de ir.
-Pode ir... a vista é melhor lá do alto.
Abriu a janela devagarzinho, olhando toda calma e foi embora: saiu nua, costas lindas... E foi voando
-Tudo pronto para o fim do mundo.
-Tudo pronto para o fim do mundo.
Riu.
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