terça-feira, 23 de outubro de 2012

(sem título)- Caroline Bellangero


você disse que viria qualquer dia desses. disse que chegaria aqui em casa metendo o pé na porta e me pedindo para ficar, que ia me segurar pelos joelhos e eu não teria como sair dali. você olharia bem dentro da minha cara e eu ficaria assustada.

depois disso teria festa, toda a gente aqui em casa e tudo de ruim indo para longe. você desfilaria comigo e seu corpo só aquietaria no meu.

teria ligação no meio da noite com a voz amansada pela madrugada, você disse. eu teria que fazer esforço para te escutar, de tão baixo que você falava, e não escutaria nada além da sua presença.

fiquei esperando você me arrastar pelo cabelo e dizer que me amava. eu te arranharia inteiro. o rosto, o corpo, tudo. sangraria um pouco e eu lamberia. você ia gritar, porque não sabia mais o que fazer. jogado ali na sala, dentro de mim, segurando-me pelo cabelo, cheio de sangue.

você diria mais uma vez que me amava antes de ir embora.

e toda a vez que a porta fechasse atrás das suas costas, eu choraria. porque nada faria sentido fora de nós.

mas você voltava, voltava com banda tocando na minha janela e uma garrafa quase vazia de baixo do braço. eu pegaria a garrafa e você me chamaria para dançar.

nós dançaríamos a noite toda e eu não sentiria mais nenhuma dor.

qualquer dia desses, você disse.

metendo o pé na porta, você disse.

falando que me ama e me pedindo para ficar.

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