terça-feira, 6 de julho de 2010

torpor- Giovana Vilela

Olho para os dois lados: nenhum carro passando. Atravesso a rua correndo e entro em casa, sentindo o sangue percorrer entre as veias de todo o corpo. É como se tambores estivessem rufando dentro de mim, da cabeça aos pés. Sento na poltrona, não sem antes me segurar em suas bordas para evitar cair. Ainda consigo sentir a gota de suor que brota no colo do meu peito e vai apressada encontrar as tramas do tecido da blusa, desfazendo-se por lá. Olho para frente e não vejo nada senão a escuridão. O torpor na minha cabeça faz os pensamentos girarem, indo de lembranças do mês passado para os acontecimentos de hoje de manhã. Escuto vozes em meio dessa vertigem, só que vindas de fora, do patamar de cima. E só fazem gritar em meus ouvidos, juntas com um repetido toque que fica martelando insistentemente, transformando minha mente numa granada que acabou de perder seu pino, pronta para explodir. Mas o que me tira do sério, na verdade, são aqueles pensamentos que teimam voltar à tona. Como num filme, ouço risadas ou palavras entrecortadas por suspiros de impaciência. E sempre as mesmas imagens: trocas de olhares, ambos com as bochechas em fogo ou então os olhos da menina virando para cima, como que suplicando a si mesma para que acabe logo com essa paixão não-dita. Aliás, quando vou acabar com essa paixão não-dita?

4 comentários:

  1. o seu texto me lembra você tanto que chega a ser assustador, isso é interessante, parece um retrato seu ou uma caricatura... você se transparece bastante nele. é legal isso

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  2. De fato SENTI um pouco desse torpor ao ler esse texto. Impressionante.

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  3. Do caralho! É um prazer ter amigos geniais!

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