segunda-feira, 12 de julho de 2010

(sem título)- Pedro Menezes

A tristeza nunca está sozinha e hoje veio me visitar. Chegou de surpresa, sem avisar. Já coloquei a vassoura atrás da porta para ver se ela não demora.

Eu digo pra ela ir embora, que sou forte, posso me virar. Mas ela não ouve. Fica ali, parada. E vai aonde eu vou. Até nos meus sonhos ela aparece. Por que veio? Vai visitar outra pessoa. Você tem tantos amigos.

Ela não tem amor próprio. Vive pelos cantos, sendo rejeitada por quase todo mundo. Ela não se importa. Sabe que vai embora mais cedo ou mais tarde.

Mas antes de visitar outra pessoa, ela faz questão de ouvir as músicas mais tristes, lembrar dos momentos mais nostálgicos, ler os trechos mais densos, assistir aos filmes mais pesados.

Não sei o que fazer para expulsá-la. Já bebi, já chorei, mas ela insiste em me acompanhar. Vive me fazendo olhar pra trás, colocando suas escamas em mim.

A tristeza é um vírus altamente contagioso, deixa todo mundo em volta pra baixo, de cama. Estou de quarentena, isolado, não quero passá-la pra ninguém. Porque hoje eu quero morrer com ela.

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