segunda-feira, 30 de agosto de 2010

eu, desistente- Roberto Torrance.

o homem passivo olha as coisas e pensa:
a placa, o poste e a grama ficam me olhando me atrapalhando...
a grama me faz coçar o pé, me irrita coçar o pé, odeio ficar com coceira, me irrita, e ela me olha de baixo pedindo piedade, "não pise em mim", CARALHO!!! como eu não pisaria em você, você fica me cercando cretina! o poste fica na minha frente, fica parado e inofensivo, olho a minha frente e lá está ele... mas claro, ele não vale a pena, ja tentou conversar com um poste? postes não falam nada! o pior de todos os intempéries citados é a placa, óbvia, te olhando de cima, mandando em você "pare""estacione", só faltava um "pare seu anão idiota", mas dar-me ordens não a faz menos rasa e chata!
o homem continua passivo, quieto, pensando "não aguento mais!", dizendo para si mesmo repetidamente:
"tudo que eu quero é deitar no chão, no meio da rua ou da calçada, relaxar todos os meus músculos segundo após segundo e assim ficar junto da terra, abaixo de tudo e esquecido" e continuo assim no mantra que me ajudou esquecer que sou humano, afinal, quem quer ser humano?