quinta-feira, 16 de setembro de 2010

pro debaixo do meu tapete... - Lígia Fernandes

Preguiça, falta de vontade e qualidade; porém movida a dinheiro. Não é um trabalho sujo o da moça diarista; sujo é o estado que fica meu apartamento. Digo, superficialmente, tudo parece muito organizado. No entanto, basta olhar entre as frestas, debaixo dos tapetes. Tudo, toda a realidade, a maior nojeira embaixo do meu tapete.
Pego uma vassoura e uma pá, mas os filhos da mãe voltam no próximo dia e, ainda por cima, parece que se reproduzem em escala bestial! E a moça não se importa, na verdade, nem me ouve. Tapada. Ignorante. Alienada.
Enquanto finjo supervisionar seu trabalho, tomo um café olhando através da janela. A situação pede um cigarro. Acendo-o. Criaturas de ternos e semelhantes, andando e chutando e pisando em garrafas, copos e sacolas. Hora ou outra chutavam as criaturas jogadas e dormindo nas calçadas.
Aquilo tudo parecia tão normal... Ninguém se importando; é uma cidade escondida debaixo de um tapete gigante.