domingo, 27 de junho de 2010

Silêncio com café- Lígia Fernandes

Cheguei em casa e lá estava ela: sentada no canto da sala lendo Alberto Caeiro e seu realismo sensorial. Estava frio. Era inverno. A luz que entrava e a aquecia vinha somente por uma frestinha não coberta pela cortina. Estava linda, radiante. Tão concentrada na leitura que passei despercebido. Fiquei, então, a observando apoiado na porta. Suspirei - como é boa a sensação!!

Senti que me notou, pois já não mudava de página há um tempo. Vi uma covinha, de leve, aparecendo no canto esquerdo do rosto. Seus olhos castanhos e profundos se levantaram até chegarem de encontro aos meus. Foi aí que iniciamos um longo diálogo num silêncio capaz de nos deixar ouvir até a poeira visível no feixe de luz cair no chão.

Ela se levantou. Eu sorri, por um instante a vi andando até mim, me beijando, me abraçando com toda aquela paixão misturada com o medo de me perder. Mas se abaixou. Sentou-se no chão sem desligar os olhos castanhos dos meus. Estava, de alguma maneira, me chamando. Sorri e andei. E sentei-me ao seu lado.

Agora, também sentia o feixe de luz me aquecer. Não só isso, havia, também, o calor dela, o nosso calor. Deitou a cabeça em meu colo e seu olhar me pedia um cafuné. Aquele cabelo macio e cheiroso... Queria era me deitar ao seu lado, abraçá-la... Não me contive aos cabelos. Minhas mãos contornaram o mais perfeito corpo, caminharam o mais prazeroso caminho. Nós dois sempre sorrindo. Conversando sem palavras.

Ela, então, se levantou e correu. Rapidamente voltou, com duas canecas de café preto. Foi ali que ficamos o resto da tarde, foi assim que ficamos o resto da tarde: tomando café e conversando num silêncio capaz de nos deixar ouvir até a fumaça quente do café se desfazendo ao encontro com o ar frio do inverno.

Nenhum comentário:

Postar um comentário