sexta-feira, 18 de junho de 2010

o parque- Rolando Vezzoni

Às vezes eu vivo em um parque.
Todas as pessoas, azedas ou doces, tem seu lugar.
No parque todas as tardes são de sol, eu posso ficar sentado olhando.
Vejo os vivos, as crianças e todos aqueles que ainda não perderam seus sonhos.
Dormem lá meus últimos sorrisos, meus últimos abraços, e amores.
Eu queria sorrir, ou quem sabe, novamente abraçar alguém com paixão.
Não, eu já não posso mais pisar na areia, nem sujar minhas as mãos. Acho que estou muito velho para isso, eu sempre fui muito velho para isso.
Não sei porque as pessoas do parque me parecem sempre tão belas.
São como dançarinos com passos eternamente corretos e perfeitos, por mais que simplesmente não tenham nenhum sentido.
Lá tem um menino e uma menina. Os dois se olham, os dois se amam.
Há um gordinho com um cachorro. E eles, companheiros, conversam por horas.
Existe também uma mulher que vive andando com seu bebê. São incríveis, brilham como uma só alegria.
E eu sempre vejo um senhor, com sua netinha. Ela estica seus braços rindo, e gira, e gira, e gira...

3 comentários:

  1. Ro,
    Parece que você não vive em um parque, mas é o próprio parque!, quer dizer, parece que todos os que menciona lá podem ser você. Engraçada (boa) a sesação para o leitor...
    Beijo!

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  2. você pegou exatamente o que eu queria, o parque é o passado, a mente!

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  3. Grande problema esse de ficar analisando poemas, digo, quando é didático, formal... mas ás vezes é boa leitura, então que me desculpe as analogias.
    Pelo Retrovisor(armando freitas filho), belissima metáfora onde espelho e passado se compõe. Espelho é a escrita e a leitura, é a falseação do real(gosto de dizer que é metáfora, mas não é lá muito correto), ou transliteração, o que for; como meio de se ver algo que não é o em si mas a imagem do em si(por isso espelho). A lembrança se compõe como a permanente finitude do ser, o mesmo que escreve e o que lê e é temporário no segundo a segundo. Assim parece-me uma leitura agradável que teu texto exponha um distanciamento: o ser-lírico que expõe sua condição em si(de eu lirico ou de eu no mundo) ou como ser-artista expondo também o seu fazer. Literal ou metalinguistico, tanto faz, o que é de enorme valor...

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