terça-feira, 18 de outubro de 2011

o homem abstrato, episódio 4- Rolando Vezzoni.

A adolescência:

Voltava ele para onde residia, sua mãe o esperava.
-Filho, por que chegou tão tarde?
-Lembra quando eu te falei de como a linearidade é uma noção pueril?
-Sim, mas isso não é pretexto!
-Bom, eu não uso mais relógio, por isso não me anexei à realidade temporal que você gostaria... Acontece que é difícil lidar com essa régua limitada quando você pensa ´q respeito disso.
A mãe irritada passou a mão no próprio rosto e respirou fundo “sempre foi assim, nunca vai ser diferente”, ainda irritada, olha para ele com seriedade.
-Você está cheirando à cigarro e a bebida, o que anda fazendo nessas festas? Agora você além de toda a esquisitice é fumante? Fumou moleque?!
-O “esquisito” é puramente cultural...
-Eu te fiz uma pergunta!
-Qual a relevância dessa pergunta? Você como sujeito que pergunta entenderá apenas o que for de interesse e coerente com seu conceito pessoal, logo, o objeto, que é minha resposta, não tem porque ser colocado...
Foi interrompido pela mãe que disse bruscamente:
-Quero uma resposta simples e objetiva, não importa qual seja só um sim e um não me bastam.
-Se eu disser “sim”, você automaticamente irá acreditar, e criticará meu sim, logo a resposta não ficaria na simples afirmação, e eu dizendo “não”, provavelmente me perguntaria se é verdade, testando o que eu disse, e depois, por mais que aceitasse a resposta à principio, ainda continuaria a se questionar quanto a veracidade da minha negação... não tem sentido te responder objetivamente, por você lidar com a resposta de maneira subjetiva. Seu pedido é um paradoxo, do qual ninguém sairá ganhando.
-Então você quer que eu simplesmente não te pergunte nada?
-Estou apenas falando que a pergunta é ambígua, você mesma não sabe que resposta prefere, por não confiar plenamente nelas, eu te daria uma resposta limitada para o que ambos buscamos nessa relação de troca a respeito da informação.
-Informação?- disse a mãe com um suspiro desistente.
-É, faz algo ou não faz algo, essa é a máscara da questão, mas as consequências e camadas a serem pensadas não aparecem explícitas.
-”Ahhh”...- disse ela com um suspiro cansado- Desisto, pode dormir se quiser.
-Boa noite querida.
-Boa noite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário