sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Epifania- Rolando Vezzoni

(grego epipháneia, -as, aparição, manifestação)
1. [Religião] Manifestação de Jesus aos gentios, nomeadamente aos Reis Magos.
2. Qualquer representação artística dessa manifestação.
3. [Religião] Aparecimento ou manifestação divina.
4. Apreensão, geralmente inesperada, do significado de algo.


Estava ou dormindo, ou acordado, ou não sabia.
Abriu seus olhos e olhou para o teto do quarto, era tudo igual sempre fora, mas tinha um aspecto insólito, pois seu sujeito estava num estado incomum que tornava o objeto outro algo incomum em seu semi-sono, e, embora estivesse acordado, não estava normal, e tentava dormir.
Tem dois pontos a serem destacados antes de prosseguir com a história: Primeiro, a vida sempre lhe parecera sem graça, o que levou-o a pintar significado naquilo que presenciava e lhe parecia pertinente; Segundo, sempre tivera sonhos que eram mais reais que a realidade, e momentos verídicos que pareciam mais surreais que os sonhos, logo, não fazia diferença a fonte da experiência, e sim, ela em sí.
Prosseguindo:
Repentinamente sentiu-se estranho.
E entre um segundo e outro uma pressão lhe pesou o peito, respirava com uma dificuldade homérica, chegou a pensar que estava infartando "agora já foi, não consigo gritar, e tenho preguiça de levantar.".
Sofreu em silêncio os primeiros segundos, até tomar consciência de que a pressão vinha de uma espécie de corpo translúcido que lhe cobria, e ao tentar escapar de qualquer forma, percebeu ainda que segurava seus braços com mãos pesadas, seu corpo estava paralisado da cintura pra baixo, seus braços tomados e seu tórax enrijecido.
Tentava lutar com sua força apenas, mas não bastava.
No desespero chegou a conclusão de que apenas uma reza sincera poderia fazer com que aquela aparição sumisse.
"Pai nosso que..." "ah! bah! foda-se" "Ave maria mãe do..." "não vai, como dói!", tentava continuar os mantras religiosos que aprendeu em sua infância, mas sempre havia tido aversão á tudo aquilo, nunca fora religioso, tentou budismo, estudou uma ou outra, e no fim desistiu de pensar á respeito daquilo, havia a um tempo chegado a conclusão de que ele era incapaz de ser ateu, agnóstico ou protestante ou qualquer outra... simplesmente era uma negação para a religiosidade, e a qualquer coisa que fosse desse cunho, não era homem suficiente para se dizer ateu, não era sugestionável o suficiente para ser religioso, e tampouco convicto o suficiente para ser qualquer coisa.
Desistiu da reza e se acalmou. "O que é isso?" pensou, e em seguida usou a força que tinha para subjugar o agressor etérico que lá estava, segurou a cabeça da aparição e trouxe a altura de seu nariz.
"Isso não existe! Só vejo por ser isso que minha mente me propôs, e deixa de ser algo, quando e tomar consciência de que é só um trabalho inconsciente que reflete alguma crise pessoal minha!", disse relaxando os músculos e percebendo que não havia nada entre suas mãos, nem ajoelhado na sua cama, nem afligindo sua vida.
E então ocorreu-lhe a catarse: Essa é a prova fenomenológica que procurei!
Conclusão de sua epifania: Ele era ateu.

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