quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Tributo ao mongol- Rolando Vezzoni

Era só criança e brincava no parque.
Lá pros meus cinco pirralhos anos me deparei com o mongoloide e tive medo.
Eu era pequeno, pequeníssimo, e ele imenso me olhou e veio correndo com um sorriso tão grande quanto se pode ter.
Lembro bem de olhar amedrontador e abobado, eu pivete não tinha esse olhar símio e assustador... temia a selvageria, até a selvageria simpática dum monstro mais velho e debiloide que queria minha atenção... a amizade que ele queria era a minha, uma criança incapaz, incapacitada por seu pavor e falta de jogo de cintura.
O tal permanecia andando em meu encontro, eu recuava devagar daquele gigante de 12 anos, doente e frágil, preciosamente vulnerável e poderoso. Tudo ao meu redor ia sumindo, eu suava frio, sentia um nervosismo incomum... 
Lembro-me tão novo, tão cruel com aquela besta dócil... um inumano humano, temendo o tão humano inumano.
Há aquele animal inimputável, nascido normal que se torna um animal arisco, temeroso e fujão... ignorante, deveras... e há aquele marginal, que por puro azar o é.
Talvez seja melhor assumir o desconforto, do que ter pena falsa, simpatia simulada e condescendência.
O mongoloide foi embora leve, e eu o carrego até hoje desconcertado, desesperado com a ideia de ser um sujeito respeitável, que fala de preconceito por ter certeza que esse é o protocolo, mas não olha nos olhos deles... tenho simpatia por aquele garoto sorridente que já quis ser meu amigo, e como meu tributo, lhe dou dignidade não sentindo pena, medo ou remorso, mas contando essa história... pois eu era só uma criança que brincava no parque.

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