quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Espaço negativo- Rolando Vezzoni

Saí devagar a escanteio, não tive muita escolha, estava tudo certo até que simplesmente do nada eu parei nalgum lugar em que tinha um sujeito inexpressivo, mas não qualquer inexpressividade , era exacerbada ao ponto de ser discreta, com um dono tão sem graça, que não era nem chato, tão vazio que não era nem ignorante, tão nada que era praticamente alguma coisa.
Não dava pra não gostar do cara, porque ele não incomodava, e nem gostar, porque ele não chegava a ser bacana, também não falava muito, mas tampouco era quieto, pois isso seria uma característica... E o que falava era de tamanha irrelevancia, que dava para se levar em consideração, e suas opiniões eram tão enfadonhas que nem eram efetivamente opinadas, mas faziam sentido.
Seu grupo de amigos era igualmente inexpressivo, pois eles todos eram humanos normais, com características variadas, seria demasiado incomum para alguem assim ter amigos iguais, um grupo homogêneo teria identidade, algo impossível naquele contexto.
As roupas também eram neutras ao ponto de nem serem comuns e apagadas... Era velho e era novo... Não era nem branco nem preto, nem verde, nem asiático, índio, indú ou mulato ou alto ou baixo ou gordo ou qualquer outra coisa, era tão sem rosto e corpo que tinha um formato especifico, mas ainda assim dava para ver que tinha sentido naquilo tudo, senão seria o caos, e o caos é identificável... O cara era invisível ao ponto de ser plenamente visível, dava para notar, mas não é possível lembrar se era um sujeito, uma moça ou um extraterrestre.
Um ser assim nem pode ser alguma coisa, mas é, pois é mais que obvio que está ali, e não sendo e estando ali, formava um paradoxo imenso ao ponto de eu simplesmente ter que ir embora, mas assim que eu saí, percebi que era tão indiferente, que seria fácil voltar... Mas é claro que havia de ser assim, pois se ele incomodasse alguém a esse ponto, seria alguma coisa...

Nenhum comentário:

Postar um comentário