quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

O Mundo Por Meus Olhos de Criança. - Nathalie Motte

É engraçado como mantenho vivos em minha memória alguns acontecimentos da minha infância. Não que se lembrar de coisas que já aconteceram seja propriamente engraçado. A real ‘graça’ está nos fatos em si; em como meus negros e pequeninos olhos realmente enxergavam o que estava acontecendo. Resumindo: minha visão de mundo. Confesso que muitas vezes ainda me pego dando risada da inocência que fazia parte de meu cotidiano! Um flash claro ilustra bem o que quero dizer. Tinha aulas de natação junto com outras crianças de minha idade, na ‘mini-piscina’; meu sonho era nadar na ‘piscina grande’. Não via a hora de finalmente conseguir todo esse glamour. Não era de meu conhecimento na época, mas o teste para isso se tornasse realidade era muito simples: minha altura teria que ser maior que a mesa (um tanto quanto alta) da recepção do local. Um dia, (sem saber) fui chamada para ser medida. Lembro-me que, apesar de não saber o que estava ocorrendo, estiquei-me o máximo possível, do dedão do pé, até minha touca, que deixava escapar alguns fiozinhos rebeldes de cabelo. E, por mais que tenha me esforçado, de nada adiantou. A cruel mesa me vencera. Bom, e foi aí que minha astúcia juvenil entrou em ação. Ao invés de me sentir triste ou frustrada, simplesmente sugeri: ‘Ah, mas é só cortar o pé da mesa!’ e todos caíram na risada. Sem entender o porquê daquele alvoroço todo, apenas acompanhei as risadas, uma vez que os grandes que eu tanto admirava eram eles. Como foi bom esse tempo, em que tudo era tão fácil como cortar os pés da mesa! É claro que passados alguns poucos meses, como toda criança de minha idade, cresci e passei a nadar na piscina que era lar de quem eu admirava.
Conforme os anos foram passando, percebi que por mais que alguns momentos não fossem durar para sempre, eu tinha algo especial para reviver esses momentos! Algo tão mágico, tão bonito, que era até difícil acreditar que era real. Aquele ‘presente divino’ era nada mais, nada menos, que minha memória! Creio que crianças não entendam direito o que memória seja, uma vez que para elas, os dias são todos iguais (menos o aniversário, que podíamos comer quantos brigadeiros quiséssemos, e ainda ganhávamos presentes).
Agora, sei que as minhas concentram-se em um lugar bem especial. Lugar onde vivi momentos reais, momentos de alegria, frustrações, risadas e algumas vezes até mesmo de tristeza. Lugar que me ajudou a crescer, pessoas que me ajudaram a construir pensamentos, a eu ser mais ‘eu’; minha escola. Os momentos mais bem guardados são os das brincadeiras com minhas amigas, das correrias loucas e acirradas que aconteciam no pátio, promessas que juramos que iriam durar para sempre (mesmo que ainda não entendêssemos que o pra sempre não fosse existir) e laços que muitas vezes duram até hoje!
Eu sei que muitos não vêem a hora de sair da escola, de começar a dirigir, de não depender mais de ninguém. Mas a verdade, por mais que me doa um pouco admitir, é que vou sentir saudades. Saudades dos amigos, dos professores que pegavam no meu pé, dos recreios, e das notas (que muitas vezes eram baixas), de ter que estudar muito. Saudade de ser obrigada a acordar cedo, e de só ir para aquele bendito lugar para ver os amigos, e fazer bagunça! De crescer perto de quem você aprendeu a amar, e de perceber que, gradativamente, está se tornando uma pessoa melhor.
Hoje sei -que para a minha sorte- enquanto escrevo esse texto, e para o resto de minha vida, sempre que quiser posso reviver todos esses bons momentos que passaram. E agora, a única coisa que me falta, é agradecer a todos que fizeram parte deles.

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