domingo, 3 de junho de 2012

Numero sete- Bruno Santana


Quatrocentos e vinte garotos pensam na vida:
Número um fuma;
Número dois parou;
Número três pinta;
Número quatro desenha escondido;
Número cinco malha;
Número seis toca violão;
Número sete escreve;
Os  quatrocentos e treze restantes pensam em garotas.
Muitas pensam no número um;  ele não pensa em ninguém. Ele pensa com o seu cigarro; o cigarro é tudo que precisa.
Nenhuma pensa no número dois, por isso ele decidiu parar. Parar de fumar, tomar banho, fazer a barba, esconder as espinhas, combinar  as roupas, ficar sóbrio e falar com aquela em que ele pensa. Foda-se se ela não pensa nele.
A modelo nua pensa ter fisgado o número três com seu corpo, mas número três está bem preocupado com o tom de seu cabelo e o preço das telas. Depois da sessão eles vão transar, mas ele, realmente, se preocupa com o preço das telas.
A única que pensa no número quatro é a mãe. Pensa que o filho está doido. Não sabe por que o menino ficou tão sozinho e acabrunhado.
Número cinco pega todas. Número seis também, mas  número seis é um bom rapaz. Sim, sim, ele é um bom rapaz.
Número sete escreve porque já fumou. Já parou quatro vezes. Tentou pintar, mas detestou o que viu na tela. Ele, definitivamente, tem medo de ser internado. Número sete já tentou fazer academia, mas é entediante demais para ele. Ele toca violão.
Toca violão e pensa em todas as quatrocentas e treze outras garotas.
Ele pensa em tudo. Garotas, garotos, cigarros, violões, quadros, academias e romances.
Não, romances não. O número sete parou de pensar em romances.

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