domingo, 4 de março de 2012

Clamor solitário- Bruno Santana

Sem que a luz atrapalhe, escrevo.
Linhas do que vi, não vi
Vivi e senti,
Mas, é claro, isto não é poesia.

Sem que o caos da cidade perturbe
Mergulho na penumbra de homem só
Orgulhoso, inteligente e sisudo
Mas, é claro, isto não é atributo de poeta.

Sem que as vozes de outrem falem
A minha canta e grita
Orações, canções e hinos
Mas, é claro, isto não é uma melodia.

Sem que o dinheiro me acanhe
ou excite
Penso no que deve ser pensado
Mas, é claro, isto não é assunto.

É claro, fica claro, sempre foi claro
No escuro, sem a fluorescência
Me entorpeço de ideias sólidas
Abraçando a realidade fluida.

Nela, descubro que os melhores poemas
não foram escritos
As cores mais bonitas
são oculares
A melhor canção
Não vem do coração.

A mais rica melodia
emana dos elétrons
cátions e ânions
substâncias, orgânicas ou não.

Não, não é ciência
Não é poesia
Não é arte
É o clamor solitário,
de outra alma perdida.

Um comentário: