segunda-feira, 16 de maio de 2011

a poça de óleo- Rolando Vezzoni

Em sua vida as grandes peripécias ocorriam quando estava andando sozinho, olhando a calçada nua e suja, desviando das linhas tão compenetradamente que chegava a esquecer-se do seu caminho, caminho que lhe norteava a um objetivo qualquer, e que esse objetivo (qualquer que seja) não o levava a lugar algum.
Andava, e deparou-se com uma poça de óleo, algo como um arco-íris derretido num trecho deprimente de asfalto úmido, e parou para contemplar aquele trecho de cor no meio daquela cidade chumbo.
Seu reflexo saltou aos olhos, era um sujeito com olheiras grandes e fisionomia desanimada, era um "homem metropolitano" e fazia parte daquela cidade, era tão pálido quanto os cães atropelados que os carros desaceleravam para desviar e seguir com suas vidas. Destoava em meio as pessoas felizes, e sabia disso, seu retrato no asfalto retirou-lhe da dormência na qual se escondia.
Esteve tempo demais naquela lixeira de hospital, cheia de fetos mortos e seringas infectadas com variedades de doenças, naquela latrina lotada de prédios e fumaça, explodindo de débeis mentais e cegos, agora tudo aquilo lhe incomodava mais que nunca, não se sabe o quão ruim até conhecer o diferente.
Ficou horas ali, defronte aquela aflição de água e óleo, ele e os outros. Seu pescoço latejava como nunca pela posição incômoda, cansou-se, entrou para a esquerda rumando o meio fio, viu o caminhão chegando, cerrou os olhos e contou: Um... Dois... Três...

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